ATA DA QUINTA SESSÃO SOLENE DA SEXTA SESSÃO LEGISLATIVA ORDINÁRIA DA NOVA LEGISLATURA, EM 25.03.1988.

 

 

Aos vinte e cinco dias do mês de março do ano de mil novecentos e oitenta e sete reuniu-se, na Sala de Sessões do Palácio Aloísio Filho, a Câmara Municipal de Porto Alegre, em sua Quinta Sessão Solene da Sexta Sessão Legislativa Ordinária da Nona Legislatura, em memória do ex-Vereador e Vice-Prefeito Glênio Peres. Às nove horas e cinqüenta e nove minutos, constatada a existência de “quorum”, o Sr. Presidente declarou abertos os trabalhos e convidou os Líderes de Bancada a conduzirem ao Plenário as autoridades e personalidades presentes. Compuseram a Mesa: Ver. Brochado da Rocha, Presidente da Câmara Municipal de Porto Alegre; Dr, Alceu Collares, Prefeito Municipal de Porto Alegre; Dr. Luiz Alfredo Paim, representante do Procurador-Geral da Justiça do Estado; Ver. André Forster, Diretor da METROPLAN; Dr. Ivan Ferreira, Assessor Superior do Gabinete do ex-Vice-Prefeito Glênio Peres; Sra. Mila Cauduro, Secretária Geral da Executiva do PDT; Ver. Rafael Santos, 2º Secretário da Casa. A seguir, o Sr. Presidente informou que já se encontra em Pauta, 3ª Sessão, o Projeto de Resolução nº 484/88 que institui o Troféu de Poesia e Monografia Glênio Peres, e concedeu a palavra dos Vereadores que falariam em nome da Casa. A Vera. Jussara Cony, em nome da Bancada do PC do B, destacou a tenacidade sempre demonstrada pelo Sr. Glênio Peres em sua participação nas lutas em prol do Socialismo, da liberdade, da democracia e da justiça social para o nosso povo. Disse que a presente Sessão resgata a própria história de Porto Alegre e referiu-se à pessoa da Sra. Lícia Peres, como companheira do Sr. Glênio Peres em sua luta pela construção de uma nova sociedade. O Ver. Raul Casa, em nome da Bancada do PFL, comentou o trabalho político realizado pelo Sr. Glênio Peres, em busca dos ideais socialistas nos quais acreditava, enfatizando a presença constante do lado humanitário na vida de S. Sa. O Ver. Clóvis Brum, em nome da Bancada do PMDB, associou-se às homenagens prestadas pela Casa ao Sr. Glênio Peres, discorrendo sobre a vida política de S. Sa. E sua capacidade como Líder de Bancada desta Casa. Salientou a atuação de S. Sa., juntametne com outros brasileiros, na busca da anistia para o país. O Ver. Lauro Hagemann, em nome da Bancada do PCB, teceu comentários sobre o Jornalista Glênio Peres e sua incursão na vida política, declarando ter S. Sa. honrado os ideais aos quais se dedicou. Disse que Porto Alegre, com a morte de Glênio Peres, perdeu um homem apaixonado pela Cidade e sempre presente nas lutas democráticas em favor dos pobres e oprimidos. O Ver. Jorge Goularte, em nome da Bancada do PL, dizendo ter sido um dos Parlamentares que mais discutiu com o Sr. Glênio Peres quando de sua passagem pela Casa, ressaltou o talento e a competência de S.Sa. Congratulou-se com o Pref. Alceu Collares, por ter inserido a presente homenagem nos eventos relativos à Semana de Porto Alegre. O Ver. Rafael Santos, em nome da Bancada do PDS, comentou a atuação do Sr. Glênio Peres, como Líder de Bancada nesta Casa, salientando suas posições coerentes com o bem-estar da população e declarando que, apesar de não ter nascido aqui, Glênio Peres amava a Cidade e era, acima de tudo, um cidadão porto-alegrense. O Ver. Pedro Ruas, em nome da Bancada do PDT, falou sobre a vida do Sr. Glênio Peres, destacando, em especial, seu lado humano que o tornou uma pessoa popular e respeitada por todos. Discorreu acerca de sua atuação dentro da área pública, como um homem polêmico e que tinha condições de ensinar o que é fazer política. E o Ver. Antônio Hohlfeldt, em nome da Bancada do PT, discorreu sobre a honra e a alegria que é ter convivido com o Sr. Glênio Peres, salientando sua presença como homem ligado à cultura e grande responsável pela Expositur, onde realmente nasceu o “Festival de Cinema de Gramado”. Declarou que o que mais o marcou na personalidade do Sr. Glênio Peres, foi a sua tenacidade, o seu bom humor e a forma como administrava seus projetos como Vereador deste Legislativo. Em continuidade, o Sr. Presidente concedeu a palavra ao Pref. Alceu Collares, que comentou a vida pública do Sr. Glênio Peres, atentando para sua presença constante nas lutas em benefício do desenvolvimento de Porto Alegre. Salientou o papel da mulher no processo da anistia brasileira, destacando os nomes de Mila Cauduro e de Alícia Peres. A seguir, o Sr. Presidente fez pronunciamento relativo à solenidade e, nada mais havendo a tratar, levantou os trabalhos às doze horas e três minutos, convidando as autoridades e personalidades presentes a passarem à Sala da Presidência e convocando os Senhores Vereadores para a Sessão Ordinária da próxima segunda-feira, à hora regimental. Os trabalhos foram presididos pelo Ver. Brochado da Rocha e secretariados pelo Ver. Rafael Santos. Do que eu, Rafael Santos, 2º Secretário, determinei fosse lavrada a presente Ata que, após lida e aprovada será assinada pelos Senhores Presidente e 1ª Secretária.

 

 

O SR. PRESIDENTE: A presente Sessão insere-se nas comemorações da Semana de Porto Alegre e deveria ser realizada em um período de Sessão Ordinária desta Casa, mas, posteriormente, por deliberação do Plenário e com a indicação também do Poder Executivo, através do Sr. Prefeito, foi transformada numa homenagem ao Vice-Prefeito de Porto Alegre e, sobretudo, Vereador de Porto Alegre, Glênio Peres.

Aproveito a oportunidade para registrar que já se encontra em 3ª Sessão de Pauta o Projeto de Resolução nº 484/88, que institui o Troféu de Poesia e Monografia Glênio Peres, a ser concedido de forma individual anualmente.

Dando seqüência à Sessão, seguindo a ordem dos inscritos, passamos a palavra à Verª. Jussara Cony, que fala em nome do PC do B.

 

A SRA. JUSSARA CONY: Sr. Presidente, Srs. Vereadores, componentes da Mesa, companheiros, companheiras, população de Porto Alegre, estamos na Semana de Porto Alegre e muitos de nós viemos de longe, de outras plagas. Me permitam, primeiro, dizer, do Cacequi, de Bagé, do Livramento, de Lavras do Sul, como Glênio Peres. E Porto Alegre como que nos assume, parece até que nos adota, nos abre seus caminhos, nos dá o Guaíba e o pôr-do-sol. Porto Alegre nos envolve, nos encampa. Porto Alegre nos prende. Mas, em alguns é como que algo mágico. E, às vezes, é preciso que um se vá para, num momento de reflexão, a gente entender. E quando Glênio Peres se foi eu entendi isto, entendi esta magia, a magia de um homem em unidade com um lugar. Eu senti que Glênio como que estabeleceu uma relação de amor com Porto Alegre, mas uma relação de amor, digo.

Permitam-me todos perguntar: como homenageá-lo? De que modo se faz uma homenagem a quem estabelece uma relação assim, de amor e de luta com um lugar?

Fui buscar nos amigos e companheiros de luta de Glênio, na tentativa de fazer esta homenagem. Fui buscar no Marcos Klassmann e na Magda Wagner, na Vera Breda, no Paulo Pereira e Silva, no Ivan Ferreir, no Adão Gonçalves Dias, no Rafael. Fui buscar, dizia, o conhecimento mais profundo de sua vida, de sua militância. Além do que eu mesmo havia participado no processo de luta contra o regime militar ao lado de vários companheiros, entre os quais, Glênio e Lícia Peres. Nesse conhecimento, a certeza de que sua vida e militância se confundem com a própria história desta Nação, confundem-se com a resistência de nosso povo, aqui, em Porto Alegre e em todo país. País que, certamente, mais do que nunca precisa da unidade do Povo, País que, certamente, precisará contar com muitos da fibra e do valor de Glênio Peres para vencer o arbítrio e a prepotência, para vencer o atraso e o conservadorismo reinante, para vencer o atraso, para conquistar a liberdade, a democracia, a justiça social, enfim, para conquistar o socialismo. É bom lembrar que Glênio começou a trabalhar como baleiro e trocador no “Capitólio” porque isso nos faz lembrar uma época da Cidade e de nossa vida, dos nossos matinês da vida. É bom lembrar Glênio Jornalista, o compromisso com a notícia e com a notícia, não com a neutralidade que aliena, mas com a responsabilidade de formar consciências críticas. Suez, a guerrilha de “Chê”, o Movimento Tupamaro, “Cadernos do II Mundo”, Pasquim, Espaço democrático. É bom lembrar também o que legou ao teatro, à música, às Artes Plásticas, principalmente levando em consideração o descaso com que os setores dominantes, detentores do poder político e econômico, tratam a cultura e a arte, principalmente a cultura e a arte popular.

Se é bom lembrar Glênio, animador, baleiro, trocador ou jornalista, é imperioso resgatar Glênio o político, o militante, o Vereador por 2 décadas, o mais votado da história desta Cidade. O Vice-Prefeito, primeiro eleito, após o arbítrio de mais de 20 anos, e, em todas essas atividades, a relação de amor e luta por Porto Alegre. Mas é mais do que imperioso, é necessidade histórica Glênio Peres, cassado pelo Governo Geisel, quando se pronuncia, nesta Câmara Municipal denunciando torturas e violências contra presos políticos, torturas e violências contra o povo desta Nação.

Glênio Peres, que 12 dias após viu seu amigo e companheiro de luta Marcos Klasmann, também, pelo ditador de plantão, ser cassado, ou como disse Glênio ao retornar à tribuna desta Casa: “Eu falava, quando fui interrompido por um General de plantão”. Glênio Peres que atuou em campanhas de apoio ao Conesul, que atuou na campanha de anistia. Glênio Peres que disse no “Diário de Campanha”, pag. 35 – “Registre se à Cidade e aos Anais da Câmara Municipal de Porto Alegre. Eu fui cassado, não exclusivamente pelo discurso em que denunciei a tortura sistemática, mas também pela acumulação dos processos de informação da ditadura militar, que funciona pelo número de dados fornecidos pelo dedurismo institucionalizado por um acompanhamento da vida do cidadão. O regime concede que ele atue de tal maneira, que realmente se torne evidente a sua incompatibilidade absoluta e total com o sistema. Essa situação se configurou, no meu caso, com a experiência de luta, de convívio com as vítimas de ditadura, vendo pessoas cassadas, companheiros desaparecidos; assistindo a situações de prisioneiros e fazendo a ligação desses com seus familiares. Diante dessa situação e saturado de tanto arbítrio, decidi que, ao assumir o meu 5º mandato, ele só teria sentido se iniciasse com a declaração de princípio evidente de que eu era consciente das injustiças que aconteciam. Eu acreditava que só dignificaria o novo mandato que recebi do povo, se denunciasse, no momento da solenidade oficial, com todas as autoridades militares presentes, com todas as autoridades do Estado instituídas pela força, evidências de tudo o que eu sabia sobre torturas.

O texto do meu discurso foi comunicado imediatamente através dos órgãos de informações locais e nacionais ao então General do dia, Gal. Ernesto Geisel, que, naturalmente, naquela noite me cassou os direitos políticos”.

Senhores e Senhoras, tenho para mim, que estamos hoje, na Câmara Municipal de Porto Alegre, na Semana desta Cidade, mais do que prestando uma homenagem a um lutador do povo. Estamos resgatando a própria História de Porto Alegre, deste Legislativo, dos homens e mulheres desta Cidade, por democracia e liberdade. Com o mesmo respeito que dedicamos a Glênio Peres em vida. Na Sessão que ocorria nesta mesma Câmara, há um ano da morte de Velneri Antunes, eu dizia, desta tribuna, e repito, que não acredito na eternidade da vida. Para mim há a eternidade histórica e esta é alcançada por quem ousou desafiar as estruturas dominantes e empurrar a história para frente.

Permitam-me, Senhores Componentes da Mesa, Srs. Vereadores, Companheiros de luta, ao finalizar, a referência necessária à companheira de luta mais próxima de Glênio; Lícia Peres, sua mulher, lutadora pela Anistia, liderada por Mila Cauduro, militante do coletivo de mulheres do Rio Grande do Sul, onde temos travado batalhas por nossa emancipação e pela libertação do nosso povo.

Referência necessária, entendemos neste momento, porque sempre vislumbrei, na luta de Glênio e Lícia, o princípio fundamental de que homens e mulheres, explorados e oprimidos, lado a lado na luta contra a opressão, poderão construir uma nova sociedade. Uma sociedade socialista. Assim entendo Glênio Peres, vivo na eternidade da história, em Porto Alegre, uma relação mágica de amor e luta. Muito obrigada. (Palmas.)

 

(Não revisto pela oradora.)

 

O SR. PRESIDENTE: A Mesa concede a palavra ao Ver. Raul Casa. S. Exa. falará em nome da Bancada do PFL.

 

O SR. RAUL CASA: Sr. Presidente, Srs. Vereadores, triste momento vive esta Casa nesta hora. Transcorre, já, um mês, que Glênio nos deixou. Fui colega de Glênio durante quase uma década na RBS. Fui colega de Glênio nesta Casa. Posso dizer, até, que eu o conhecia com uma certa intimidade. Glênio foi um inconformado e isto lhe ditou a vida pública, penosa e trepidante. Mas sua vida foi um marco de fortaleza e de coerência. Glênio tinha um estilo próprio, seu, só seu. E o estilo gradua-se proporcionalmente ao tema. O estilo representa uma idéia, uma sensação. Sua oratória, no descritivo das paixões arrancadas pelas impressões das coisas materiais ou morais, produziam imagens de movimento da linguagem, movido pela vibração. Nisso, Glênio foi insuperável. Tanto ardor e tanto talento geraram uma segurança e uma firmeza de espírito, que só se explica pelo efeito de uma intensa cultura e uma profunda vivência humana. Glênio foi um crítico. A crítica não ensina a política, mas ensina a compreendê-la. A certeza da vida não nos é garantida pelas instituições, mas pelo amor, pelo amor que cultivamos. Glênio foi um amoroso, e por isso, sua memória está garantida para sua família, para nós, para esta Cidade que tanto amou para a humanidade que queria vê-la melhor. Glênio foi sempre um homem consciente. A consciência com o coração, e o coração deve ser aquecido pelos sentimentos, precisa abarcar horizontes largos. O dever nada vale, quando falta sublimidade. E a própria vida torna-se vulgar, quando não se tem a insipirá-la o sentimento da grandeza humana. Glênio foi um grande ser humano. Muito obrigado. (Palmas.)

 

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE: Com a palavra, o Ver. Clóvis Brum, que falará em nome da Bancada do PMDB.

 

O SR. CLÓVIS BRUM: Sr. Presidente, Srs. Vereadores, minhas Senhoras e meus Senhores, há momentos em que fazer um discurso nesta tribuna é fácil; há momentos em que fazer um discurso aqui se torna um pouco difícil; e há outros momentos em que fazer um discurso, por mais breve que seja, se torna até doloroso. Eu tenho adiado, fugido, por que não dizer, e insistido com o Líder da minha Bancada para que me dispense de me pronunciar na tribuna. A Casa é testemunha de que não tenho feito discursos há algum tempo. Acho, Sr. Presidente e Srs. Vereadores, que este tipo de discurso, que exige muito da alma, do coração da gente, também judia da gente, principalmente quando se reúne a Câmara de Porto Alegre para saudar, para homenagear um homem como Glênio Peres, da estirpe, da envergadura, do porte, da luta e do conhecimento de Glênio Peres. Entretanto, senhores, em nome da bancada do PMDB desejamos nos associar às homenagens que a Casa presta a Glênio Peres sem, no entanto, deixar de alinhar algumas considerações como justiça e reconhecimento a Glênio Peres e a sua luta: Vereador competente, conhecedor de todos os problemas desta cidade, aliás, se costumava dizer que Glênio amava esta cidade como nenhum outro; homem de imprensa, ligado não só às lideranças políticas, mas também liderança partidária – o Glênio gostava muito de participar da organização do partido -; eu diria que, como líder de bancada foi um exemplo: eu tive a honra de ser liderado por Glênio Peres; as informações, as suas orientações, como líder, nunca deixou de transmitir uma grande lição: de manhã, no gabinete de cada Vereador de sua bancada estava o recorte do jornal feito por ele, sobre o assunto que cada Vereador debateria naquele dia, nesta Casa. Uma orientação infalível, como líder de bancada, e me perdoem os demais líderes, mas, até agora, ele ainda é insubstituível, até nisso. Primeiro o discurso do reeleito Vereador e líder de bancada Glênio Peres, lhe custou nada menos do que a cassação de seu mandato. Não dizia nada mais do que a verdade dos fatos que ocorriam no Brasil de então, mas, nós tínhamos certeza de uma coisa: que quando nós subimos para o palco da existência humana, não somos nós que criamos os discursos, nem as situações, nem as crises econômicas, nem a miséria, nem a fome, apenas tentamos melhorar, minimizar, aliviar tais sofrimentos, tais crises. Glênio queria apenas ver o seu povo, esta cidade, este País num clima de democracia, de liberdade, queria apenas que o povo pudesse votar, ser livre, que os parlamentos pudessem falar, discursar, ter vida própria, que na palavra de cada membro do parlamento fosse a palavra do povo que o elegeu, era isso que Glênio queria. Não entenderam assim os militares. Sucedido pelo jovem Vereador, combativo, Marcos Klasmann, Marcos que também teve a mesma sorte, no seu discurso de posse lhe cobraram o seu mandato e aí é que nós vemos a grandeza do espírito político desses homens, deram o seu mandato, ofereceram o seu mandato à causa maior, à causa da liberdade.

Glênio era um lutador, ninguém de sã consciência que tenha assento nesta Casa pode dizer que Glênio não deixou exemplo do bom combate, do combate leal, acima de tudo, leal. Glênio era um combatente leal, um exemplo de combatente. Mas não era o Glênio em si, era um conjunto, eram idéias, posturas, definições, era uma luta onde se somavam homens e mulheres, homens e mulheres pioneiros nos grandes embates da busca da democracia, da redemocratização deste País. E, entre esses homens e essas mulheres, me dá honra de ver nesta Mesa a grande comandante da Anistia, dona Mila Cauduro, que nos momentos mais difíceis, quando não se podia falar, quando a voz dos líderes eram cerceadas, a dona Mila Cauduro, extraordinária mulher, ao lado da mulher de Glênio Peres, da dona Lícia, da dona Quita e de tantas outras, se levantavam em busca da Anistia, objetivo maior do espírito brasileiro. Eram poucas as mulheres, pouquíssimas, dava para se contar nos dedos; era como se fosse um pingo d’água a começar no cume do monte. Daí a um pouquinho mais esta idéia foi se desenvolvendo e este pingo d’água se somando a outros, foram deslizando em direção à planície. E acreditem, em pouco a planície estava inundada com a idéia da Anistia. Era dona Mila e um milhão, milhões de brasileiros a sonhar com a Anistia. Ela não foi um presente, a Anistia, onde Glênio também esteve contemplado por coragem do Plenário desta Casa, não foi um presente. Foi uma conquista destas mulheres maravilhosas e dos homens que souberam compreender o momento que se passava neste País. Mas Glênio esteve sempre presente nestes acontecimentos. Aliás, nos dizeres de Dorival Fontes, saudoso Desembargador de Santa Catarina, se diria que Glênio Peres era homem de um só querer: “antes morrer do que volver”. A idéia de Glênio era a democracia, era o Parlamento falando, era o discurso raro, inteligente, era o orador coerente, exemplo, escola, dominava esta tribuna como só ele. O grande Vereador,  grande Vice-Prefeito, o grande homem público, que esta Casa tem, não digo o privilégio, mas a honra de lhe prestar, nesta manhã, esta homenagem. É uma homenagem que passa pelo pensamento político da Casa, que passa pelo coração e pela alma daqueles que, como Glênio Peres, sonharam com um País livre para o seu povo e para os seus filhos. Poucos, muito poucos alferes como Glênio Peres ofereceram a sua vida pública e até a sua própria vida no combate, na luta por melhores dias para os seus, para os seus concidadãos. Que bom, Sr. Presidente, Prefeito Collares, demais autoridades, que bom que esta Casa tributa, na Semana de Porto Alegre, uma homenagem ao seu homem de cultura, ao seu político, ao seu Líder partidário, ao seu Vereador, ao seu tribuno, ao seu Vice-Prefeito, ao imortal Ver. Glênio Peres. Muito obrigado. (Palmas.)

 

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE: Com a palavra, o Ver. Lauro Hagemann, que falará em nome da Bancada do PCB.

 

O SR. LAURO HAGEMANN: Sr. Presidente, Srs. Vereadores, Senhores, Senhoras, amigos e companheiros de Glênio Peres. Não poderia deixar de participar desta Sessão em homenagem à memória de Glênio Peres, a quem conheci também quando jovem nos “Diários Associados” de Porto Alegre, especialmente no “Diário de Notícias” e na “Rádio Farroupilha”, nos idos de 1950. Glênio, como outros jornalistas ilustres desta Cidade e deste Estado, como Josué Guimarães, Manuel Braga Gastal, Alberto André, Said Marques, tiveram como corolários de suas atividades a incursão na atividade política. Nisso Glênio cumpriu o seu fardo com inexcedível proficiência e bravura, honrando o nome dos companheiros que também se destacaram nas lides políticas, uma espécie de prolongamento das suas preocupações com a sociedade onde se inseria e servia. Depois de ter convivido com Glênio, nos Diários Associados, convivi também com Glênio político. Em 1964, no ano em que as forças reacionárias se assenhoraram deste País, assumindo, também pela primeira vez, à Câmara, tive a honra de ser saudado pelo Ver. Glênio Peres. Alguns episódios haviam-nos separado, mas foram coisas passadas. Àquela Câmara se pode recordar ainda a presença de duas ilustres personagens que hoje se encontram aqui: o Ver. Cleom Guatimozim e o Prefeito Alceu Collares, então Vereador do PTB; Ver. Cleom Guatimozim, então Vereador do PDC, e este Vereador.

São épocas que se lembra com saudade, mais isto não obscurece a luta contínua de todos aqueles que naquela época lutavam contra o arbítrio, em favor da população sofrida de Porto Alegre, como Glênio. Me recordo que Glênio foi servir ao Executivo de então na Secretaria dos Transportes, um tema que sempre o apaixonou. E talvez fosse esse somatório de lutas em favor dos amigos, dos desassistidos, dos pobres, que tivesse levado o então Governo Geisel a cassar-lhe o mandato, não por obra exclusiva do discurso que pronunciou. Muitos outros antes disso, também, pelo mesmo somatório de lutas constantes e contínuas haviam sofrido o mesmo castigo.

Sempre se disse, e é verdade: Glênio sempre foi um apaixonado de Porto Alegre, como tantos outros de nós, que vieram de outras plagas, encontramos aqui todos nós o abrigo desta cidade, Cidade cuja população nós procuramos servir da melhor maneira que nos é possível, em retribuição a este amor, as oportunidades que a cidade nos deu de aqui vivermos, de aqui crescermos, de aqui constituirmos as nossas famílias, de aqui termos tido os nossos filhos.

Inegavelmente, Porto Alegre perdeu com Glênio Peres um de seus amantes mais apaixonados. E é esta memória que não devemos esquecer e a qual nós devemos prosseguir honrando. Muito obrigado.

 

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE: Pela ordem, o Ver. Jorge Goularte, que falará em nome do PL.

 

O SR. JORGE GOULARTE: Sr. Presidente, Srs. Vereadores, familiares de Glênio Peres, amigos, irmão, minhas Senhoras, meus Senhores, é a segunda vez que se presta uma homenagem à memória de Glênio Peres, nesta Casa. E, especialmente este Vereador não poderia ficar de fora desta homenagem, pois, eu costumo dizer, e é verdade, que devo ter sido um dos Vereadores que mais debateu com Glênio Peres e que mais divergência teve com Glênio Peres e até mesmo por isso que tenho a tranqüilidade de, olhando nos olhos dos seus amigos, do seu irmão, falar aos que estão aqui presentes e aos Anais da Casa que são implacáveis.

Este Vereador, Militar do Exército Brasileiro, sargento oriundo do nosso Exército brasileiro, tem a tranqüilidade de dizer, a todos aqueles que ainda não sabem, que votou pela reintegração de Marcos Klassmann e Glênio Peres, Marcos que está aqui presente e que neste momento eu saúdo. Há poucos dias atrás eu fiz uma colocação e quero corrigí-la por que naquela oportunidade o Ver. Paulo Santana também votou pela reintegração do Marcos e do Glênio. Além de votar pela reintegração desses dois Vereadores, fiquei em Plenário para dar “quorum”, apesar das ameaças de que se nós ficássemos em Plenário poderíamos ser presos.

Então, me parece que as atitudes marcam mais que os gestos impensados, do que o acalorado dos debates. Glênio Peres era um tribuno polêmico de muita garra, muito talento. Era um poeta da palavra. E, defendia as suas idéias com muita competência e altivez.

Eu repito, eu não poderia deixar, nas vésperas do trigésimo dia da morte de Glênio Peres, de trazer a minha solidariedade à família, aos irmãos, especialmente àqueles a quem eu sou muito chegado que é o Tasso e o Paulo, são meus amigos pessoais. Paulo, meu colega de aula e o Tasso trabalhando nesta Casa. A extraordinária mulher, sua esposa, Lícia Peres que deve ser citada como um exemplo raro de companherismo e participação intensa com seu marido, até o último momento. Algo de comover. É preciso que a gente cite os últimos dias de Glênio Peres, era comovente a presteza, a dedicação, a veneração de Lícia Peres, que aqui não está presente, mas que eu deixo a solidariedade pessoal a do Partido Liberal.

Caro Prefeito, foi muito importante V. Exa. ter colocado na Semana de Porto Alegre, esta figura que tanto fez por Porto Alegre e que, como quase todos nós, veio para Porto Alegre e se integrou à Capital. Capital que V. Exa. dirige com tanta competência e que eu de público agradeço pelo que vem fazendo por Porto Alegre, com os recursos que tem, com as dificuldades que tem. Eu diria de público: não me arrependo por ter feito a campanha que fiz.

Mas neste dia em que se enaltece a figura de Glênio Peres, que fique aqui a palavra de alguém que divergiu dele, mas que foi muito mais justo na hora da decisão que ele precisava do que muitos outros. Torno a repetir: estão nos Anais da Casa, o Marcos está presente e é testemunha disto. O voto pela reintegração é algo que foi pouco citado e as pessoas devem ter em conta. Parece que foram os únicos atos de reintegração em todo Brasil. Os únicos 2 casos. Em todo Brasil, em que houve reintegração foi aqui em Porto Alegre pela votação de reintegração dos cassados e pelo pulso firme do Ver. Cleom Guatimozim. Lembro-me naquela Sessão histórica em que apenas nós, cinco Vereadores, junto ao Cleom, recebendo ameaças que não devem nem ser mais citadas, agüentando firme para dar posse a quem nós achávamos que tinha que tomar posse, embora fosse nosso adversário dos mais ferrenhos, e o maior adversário que nós tínhamos. Isso é que deve ser praticado pelo político, com autenticidade. Divergi? Sim, muitas vezes! Mas não deixei de reconhecer a justeza da reintegração e não deixo de reconhecer, hoje, como reconheci em vida, que é muito importante a sua competência, a sua garra, a sua dedicação que ele tinha por esta Cidade que ele tanto amava e que tanto amamos.

Gostaria de deixar a solidariedade pessoal do Ver. Jorge Goularte do Partido Liberal, aos seus amigos, aos seus correligionários, aos seus familiares, ao seu filho Lourenço e à extraordinária figura de Lícia Peres. Eu lamento ela não estar aqui presente como o Dr. Raul Cauduro que, junto com a Da. Mila, eu considero as pessoas mais amigas do Glênio e da Lícia. Eles dão o exemplo de como deve ser uma amizade, sempre ao lado, atuante. Eu digo, de público, e ela vai se lembrar disso, que eu a procurei com o Dr. Raul para que nós acertássemos as nossas divergências, porque eu não gostaria de ir, além das discussões de Plenário, a uma divergência eterna. Isso não seria bom e eu não queria, e eles tiveram, mais uma vez, a amizade, a tranqüilidade de nos reunir e de fazer com que nós nos compreendêssemos e nos respeitássemos, como foi feito até os últimos dias de sua vida. A minha compreensão e a minha saudade ao grande político gaúcho e ao grande amante desta Porto Alegre, Glênio Peres. Que Deus o tenha no melhor lugar, porque ele o merece. Muito obrigado.

 

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE: Com a palavra, o Ver. Rafael Santos, que falará em nome da Bancada do PDS.

 

O SR. RAFAEL SANTOS: Sr. Presidente, Srs. Vereadores, amigos, familiares e companheiros de Glênio Peres.

Conheci Glênio Peres em 1973, quando assumi o meu mandato de Vereador, pela primeira vez. Naquela oportunidade, Glênio Peres liderava uma Bancada formada por antigos Vereadores, respeitáveis Vereadores desta Casa, como Aloísio Filho, João Satte, César de Mesquita, Cleom Guatimozim, e tantos outros Vereadores, já encanecidos alguns, e experimentados no trabalho em defesa dos interesses desta Cidade. Então eu me perguntava por que Glênio Peres era o Líder da Bancada e comecei a observar, a procurar conhecer melhor aquela figura altiva e polêmica de Glênio Peres. Fizemos uma grande amizade, embora em Partidos diferentes, embora em posições ideológicas divergentes. Fomos, aos poucos, solidificando a nossa amizade e passei, não só a conhecer melhor e mais profundamente Glênio Peres, como comecei a admirá-lo, admirá-lo pela sua postura, pela sua fidelidade à palavra empenhada. Jamais alguém necessitou pedir uma assinatura a Glênio Peres. A sua palavra empenhada era a certeza do cumprimento do que havia sido acordado. Inúmeras vezes fui testemunha deste fato. Em inúmeras oportunidades, vi Glênio Peres lutando e debatendo com sua própria Bancada, porque havia assumido um compromisso verbal, do qual não se afastava. Nunca vi, ou ouvi, no âmbito desta Casa, nos acordos, nas discussões, Glênio Peres voltar atrás, depois de ter empenhado sua palavra, pois era, acima de tudo, um homem de palavra. E amava esta cidade como ninguém. Embora oposicionista ferrenho, embora lutador incansável, jamais levantava a voz para se opor a um Projeto, a uma Proposição, que ele havia se convencido de que eram benefícios para a Cidade. E, contra aqueles Projetos, aquelas Proposições que, no seu entendimento, não eram benéficas para Porto Alegre, lutava como ninguém, lutava como um leão ferido, sempre tendo presente a grandeza de nossa Porto Alegre. Ninguém foi mais Vereador do que Glênio Peres, ninguém agiu, no âmbito desta Casa, com mais acuidade, com mais cuidado na defesa dos interesses da cidade do que Glênio Peres. Era capaz de esquecer as suas divergências ideológicas, era capaz de esquecer as divergências pessoais, quando estivesse em jogo algo que fosse do interesse da cidade, no seu pensamento, na sua idéia. Com que entusiasmo Glênio falava de Porto Alegre, sem ter nascido em Porto Alegre, mas aqui viveu, tendo aqui construído toda sua vida pública. Glênio era, antes de tudo, e acima de tudo, um porto-alegrense que amava, que respeitava e que lutava por sua cidade. Não me encontrava em Porto Alegre quando Glênio Peres faleceu: só fui tomar conhecimento de seu desaparecimento 4 ou 5 dias após sua morte, quando retornei a esta cidade. O meu primeiro sentimento foi que, efetiva e realmente, Porto Alegre havia perdido alguém que lhe faria falta, e, realmetne, dos inúmeros homens públicos que Porto Alegre registra, como homens que prestaram inestimáveis serviços a esta cidade, na galeria, o nome de Glênio Peres deve ser escrito em letras destacadas, em letras douradas, para que nunca esta cidade esqueça que aqui viveu, que aqui lutou, que aqui trabalhou, em benefício dela, um homem como Glênio Peres. Muito obrigado. (Palmas.)

 

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE: Com a palavra, o Ver. Pedro Ruas, que falará em nome da Bancada do PDT com assento nesta Casa.

 

O SR. PEDRO RUAS: Sr. Presidente, Srs. Vereadores, Senhoras e Senhores presentes, parentes, amigos, companheiros de Glênio Peres, meu particular amigo Tasso Peres, existem determinados momentos na vida de cada um de nós em que o protocolo cede lugar à emoção quando se fala em nome do Partido da pessoa que é homenageada neste momento, da pessoa cuja memória é referenciada e que, por felicidade, foi amigo deste Vereador. Srs. Vereadores, Sr. Presidente, Sr. Prefeito, o fato de ter sido amigo pessoal de Glênio Peres nos dá, pelo menos, o direito de deixar de lado um pouco o protocolo em relação às palavras formais, em relação ao currículo do homenageado, para falar um pouco da pessoa humana do companheiro, do líder político Glênio Peres.

Existe um significado, Srs. Vereadores muito grande no fato de ter sido esta Sessão Solene proposta por uma Vereadora que não é do PDT, que nunca foi do partido do Sr. Glênio Peres. Existe também muito significado no fato de que Vereadores que usaram esta tribuna que tiveram divergências políticas, partidárias, eventualmente pessoais com Glênio Peres terem se referido ao grande homem público de forma tão carinhosa, e de forma tão respeitosa. Não é por acaso, Srs. Vereadores que Glênio Peres consegue a unanimidade de respeito a sua pessoa, a sua militância política, a sua liderança partidária, a sua vida como homem público. O antigo baleiro do Cine Capitólio, o repórter que marcou época no jornalismo, premiado várias vezes pela Associação Riograndense de Imprensa, o grande Vereador por quase duas décadas de Porto Alegre, o primeiro Líder do PDT nesta Casa, o homem simples, não o homem comum Glênio Peres. O homem que se constituiu no maior animador cultural desta Cidade e que, na sua simplicidade, nas voltas do Mercado Público tocava samba com uma caixinha de fósforos em companhia de seus amigos. Que conseguia algo muito raro em nossa classe política ser ao mesmo tempo popular e respeitado de forma muito intensa pelos segmentos populares, identificado por esses sentimentos e ao mesmo tempo aceito e reverenciado nos círculos intelectuais e mais expressivos de nossa Cidade. Este tipo de comportamento e de atuação do grande companheiro Glênio Peres, deixa em todos nós a marca profunda, a marca da falta de substituição deste grande companheiro. Cerca de uma semana ou 10 dias antes de seu falecimento, Glênio Peres ainda manifestava preocupações, inclusive divulgadas pela imprensa acerca dos impactos no meio ambiente que poderia produzir a termelétrica do Jacuí. A preocupação de Glênio Peres, até seus últimos momentos, foi a sua comunidade, foi a sua Cidade, pelo bem-estar da população. Poucos dias antes de seu falecimento estive com S. Exa. e dele não ouvi nenhuma só palavra de queixa ou lamento pela sua situação de doença em fase terminal; ouvi, isto sim, conselhos do grande Vice-Prefeito, do grande Vereador a respeito de como deveria ser a atuação de um Vereador nesta Casa. A respeito das grandes preocupações que ele tinha para com Porto Alegre, para com o bem-estar de sua Cidade, para com o bem-estar das instituições políticas, para com os rumos do próprio PDT. Não fui liderado por S. Exa. nesta Casa porque não era Vereador no seu tempo; mas fui liderado por Glênio Peres dentro do meu Partido. Em várias e várias oportunidades tive dele ensinamentos e conhecimentos que certamente levarei para sempre. E a honra de ter sido seu liderado e o privilégio de ter sido seu amigo me deixam na situação talvez confortadora de poder falar sobre sua esposa. O homem que ensinou a cada um de nós a fazer política e o homem que ensinou a cada um de nós de que a vinculação com os segmentos populares continua sendo a obrigação e a responsabilidade maior de um político que faz política com conseqüência. Ninguém faz política séria impunemente. Glênio Peres foi um homem polêmico que divergiu sempre, que teve várias divergências e enfrentamentos. Quando cassado, em fevereiro de 1977, entrevistado por diversos repórteres, Glênio respondeu, e repetiu a frase por várias vezes: “nada fiz para não ser cassado” e a repetiu várias vezes até que fosse entendido o seu real significado. Poucos dias depois, 11 dias, em pronunciamento assemelhado e seguindo sua trilha, Marcos Klassmann, vereador, teve o mesmo destino. Falando ontem com ele lhe perguntei se “há alguma coisa específica” que deva ser lembrado da tribuna? Ele me respondeu: “Fala sobre o  que tu conheces, sobre tua relação pessoal com ele.” A nossa relação pessoal é muito assemelhada à relação pessoal de diversos Senhores presentes. É essa relação, esse convívio de ensinamento e de conhecimento, de respeito que nos trouxe essas palavras, ditas na tribuna. Para nós todos sempre restará a imagem do homem incombatido, do amigo e companheiro leal, do líder partidário que jamais esmoreceu fosse ou não difícil a causa que defendia. O homem que disputou a convenção do meu partido para a escolha à vice-prefeitura do meu partido, na chapa liderada por Alceu Collares, que obteve ampla aceitação e vitória. Que ensinou naquele dia qual o comportamento de um homem partidário, quando disse, em 1985, “A mim não precisam perguntar se sairei do partido, caso derrotado, porque não sairei”. São colocações, são lembranças, frases, idéias, do grande líder político que ficam em nossa memória para o todo sempre ecoando. Quando Glênio Peres não se cansou de repetir “o sistema não tem virtudes, se enganam os que pensam que têm”. Essa frase tem um significado muito maior que as simples palavras podem demonstrar. Na verdade, o sistema não tem virtudes e ser inconformistas ou inconformados é a única atitude digna e correta de qualquer homem público. São esses ensinamentos, é essa vivência pessoal que nos deixa o grande companheiro Glênio Peres. Para nós, Sr. Prefeito Municipal, Sr. Presidente, Srs. Vereadores, Senhoras e Senhores, para nós foi um privilégio ter tido este tipo de contato, uma benção poder conviver com Glênio Peres. E a sensação que de alguma forma se faz parte da história tendo convivido com ele. Na ocasião em que foram reintegrados Glênio Peres e Marcos Klassmann nesta Casa, nós tivemos um ato de bravura de Vereadores desta Casa. O Ver. Cleom Guatimozim, na época Presidente da Câmara Municipal, e outros companheiros, e não companheiros, tiveram atitudes dignas e corretas e que engrandeceram a causa de Glênio Peres.

A sua luta, senhoras e senhores, é a luta de todos nós, talvez não para nós com o mesmo brilho, com o mesmo talento, com o mesmo refinamento, com o mesmo respaldo popular de Glênio Peres, porém na sua trilha, no seu caminho, na diretriz que ele marcou para todos nós e que faz dele um orgulho, não só para os companheiros do PDT, mas para várias e várias pessoas, vários e vários homens públicos, vários e vários partidos que dele tomaram conhecimento, com ele conviveram e com ele aprenderam.

É uma honra, Sr. Presidente, poder falar em nome do PDT a respeito da memória do seu primeiro líder nesta casa, é uma honra, senhoras e senhores poder falar a respeito da memória de um amigo cuja memória é enaltecida por toda a cidade de Porto Alegre. E é uma honra, Srs. Vereadores de todos os partidos, poder falar a respeito de um homem público, de um Vereador, de um Vice-Prefeito, que marcou, indelevelmente a vida desta Cidade e que obtem de todos os segmentos políticos, culturais e populares da nossa cidade respeito e admiração perene de sua memória. Muito obrigado.

 

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE: Pela ordem, com a palavra o Ver. Antonio Hohlfeldt, que falará em nome do seu partido.

 

O SR. ANTONIO HOHLFELDT: Sr. Presidente, Srs. Vereadores, ser o último a falar nesta Sessão poderia ser difícil na medida que, evidentemente, teria preocupação de evitar repetir aquilo que os vários oradores já disseram de Glênio Peres. No entanto, pela versatilidade, pela diversidade, pela dinamicidade de Glênio na vida cotidiana desta Cidade, não é difícil, ao contrário. E eu que não pude estar presente, quando dos primeiros momentos da morte do Glênio, porque não me encontrava em Porto Alegre, não poderia evidentemente em meu nome pessoal, em nome do Partido dos Trabalhadores, deixar de participar desta homenagem no dia de hoje.

Em algumas sociedades primitivas, costuma-se depositar viveres, guardar a roupa e objetos pessoais e por vezes até mesmo incluir sacrifícios de parentes mais próximos, quando ocorre a morte de algum membro da comunidade, no sentido de honrar e preservar-lhe a memória. Em outras, algum parente remanescente adota o nome do morto e, assim vai revivê-lo de geração em geração.

A civilização a que pertencemos, crendo ou não, acrescentou um novo elemento de fé e de esperança, a crença na ressureição, nos finais dos tempos, enfim, numa possibilidade de reencontro. Qualquer que seja, porém, a prática da sociedade, não se apaga a dor dos que perdem uma grande figura, uma figura querida como foi o Glênio Peres, um lutador.

Tive a honra e a alegria de trabalhar com Glênio Peres, num determinado momento. E eu diria que foi num momento difícil para Glênio que vinha de uma derrota eleitoral, em torno dos anos 68 e 69, e que impossibilitado, portanto, de manter o seu Cargo eletivo, nem por isso abandonou a sua luta e se não tinha a Tribuna Legislativa, inventou outra tribuna para continuar o seu trabalho em prol da Cidade e do Estado. Ele inventava a Expositur, realizada ainda na época do Parque de Exposições Menino Deus, eu era indicado pelo então Companheiro e Jornalista, Paulo Fontoura Gastal, para assessorar Glênio Peres no final de semana. Conhecia Glênio Peres da Redação do Jornal, onde costumava frequentar as noites do “Correio do Povo” onde ficávamos paginando as folhas, depois íamos ao Matheus.

Tive a oportunidade de ver a força, a iniciativa de Glênio Peres, na proposição que ele teve de viabilizar o cinema dentro do Parque de Exposições Menino Deus, com um projeto de 35mm, onde se convidaram atrizes e atores, diretores de São Paulo e Rio de Janeiro. Duplicar as sessões de cinema, quando nos demos conta de que seriam um sucesso incrível de público, para o cinema Marrocos e, de repente, conseguir levar toda aquela infra-estrutura, especialmente, na área de cinema para a Cidade de Gramado, porque a Prefeitura de Gramado descobria naquele momento que poderia transformar num evento, que nascera aqui em Porto Alegre o seu cartão de visitas mais importante e que de fato se transformou, é o Festival de Cinema Brasileiro de Gramado. Mas que nasceu, é bom que se lembrem, nas mãos de Glênio Peres, em Porto Alegre, no âmbito da Expositur.

Tive também oportunidade em várias vezes, nas campanhas de 85, de sentar com Lícia, com Glênio e conversar sobre plataforma eleitoral, eu claramente vinculado a um outro Partido, mas tendo a honra de ser o interlocutor e discutir com os companheiros do PDT algumas propostas na área cultural, exatamente, sempre com o Glênio. Da mesma forma que Glênio, Marcos Klassmann, aliás, em quem votei pela primeira vez na minha vida como Vereador desta Casa, foi no Marcos, nós tivemos a oportunidade de discutir, longamente o encaminhamento de uma possível aliança entre o PT e o PDT, na eleição de 85. Conversamos muito a respeito disso. Mas, para mim, independente destas relações, o que sempre me marcou na figura do Glênio foi o bom humor, a coerência, a tirada inesperada, foi a atenção com que ele, de repente, surpreendia um determinado aspecto da realidade e imediatamente transferia isso àqueles com quem estava dialogando, àqueles com quem estava, eventualmente, disputando idéias.

Não temos mais Glênio fisicamente, mas Glênio, com toda certeza, continuará conosco. Em primeiro lugar, porque tinha muitos projetos em mente e administrava e trabalhava nestes projetos. Me lembro, por exemplo, que li e aprendi muito com Glênio Peres, quando o Relator da Comissão de Inquérito nesta Casa sobre o Projeto Rio Guaíba, passei horas acompanhando aquilo que Glênio Peres, Vereador, havia levantado a respeito do Projeto nesta mesma Casa alguns anos antes.

Lembro-me que aprendi com Glênio Peres, inclusive algumas questões em torno do transporte coletivo, lembrados aqui pelo Ver. Lauro Hagemann. Inclusive, reencampei uma iniciativa do Glênio, então Secretário dos Transportes, em 1964, numa Emenda à atual Lei de tarifa que é exatamente a lei que proíbe o aumento tarifário, a não ser que haja uma defasagem de 25%. Nunca escondi que esta idéia foi de Glênio Peres, implantada durante a Administração do Glênio junto a Secretaria Municipal dos Transportes.

Mas fora estes aspectos, Sr. Presidente, Sr. Prefeito, companheiros Vereadores, minhas senhoras e meus senhores, Glênio Peres tinha como pessoa humana realmente uma presença inesquecível. E eu não vou me esquecer jamais da alegria com que Glênio, num certo dia, me falou, pela primeira vez do Lourenço, e disse: “Pois é, a Lícia e eu resolvemos ter o Lourenço”. E eu acho que esta é talvez a imagem mais bonita, mais sincera, de maior grandeza que eu tenho do Glênio. Mais do que as palavras, mais do que os gestos políticos, mais do que qualquer outra coisa que ele tenha feito por esta Cidade, ele teve a grandeza de pensar junto com Lícia e de nos dar Lourenço. E aí está a sua herança maior para esta Cidade e para o seu próprio nome. Muito obrigado.

 

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE: Com a palavra, o Sr. Prefeito Municipal, Dr. Alceu Collares.

 

O SR. ALCEU COLLARES: Sr. Presidente, Srs. Vereadores, Senhoras e Senhores, é muito difícil falar de uma personalidade tão forte e carismática, tão coerente e tão extremamente dedicada à coisa pública, como o Glênio Peres. Por mais abrangente que sejamos, por melhor que seja a nossa memória, por mais competência que tenhamos para registrar todos os atos e comportamentos de uma liderança como a de Glênio, sempre há de se deixar alguma coisa essencial, porque todos os seus atos foram fundamentais. Ele foi feito de atos decisivos e fundamentais. O Glênio vivenciou o dia-a-dia, ele absorveu o presente. Viveu poucos anos, mas, talvez, tão intensamente que se pode imaginar tenha dobrado a sua idade em matéria de vivência útil para o seu meio, para a sua família, para a sua comunidade. Uma vida extremamente útil. E, quando se pode falar de alguém que teve uma vida útil, que foi útil na sua passagem pelo globo terrestre, nós estamos falando de uma personalidade de um indivíduo que deixou profundas marcas, graças à fortaleza de sua personalidade. Comecei a trabalhar com Glênio como Vereador, eu do PTB e ele do MTR, quando eleitos fomos, em 1963, e assumimos em 1964. Os dois, como tantos outros de outros Partidos, ficamos no poder, aliás, nós do PTB, ficamos no poder apenas dois meses e, se não me falha a memória, incluindo o mês mais curto que era fevereiro e o mês de março. Depois, nunca mais tivemos condição de conhecer o que é poder, o que é a sua intimidade, porque, só em fevereiro e março de 1964, é que nós do PTB estivemos dirigindo os destinos da Prefeitura Municipal, quando foi arrancado, depois, pela força o nosso Prefeito Sereno Chaise. Depois da extinção dos Partidos, nós todos ficamos no MDB, na resistência democrática, que começou pelo País todo, que teve momentos enormes, momentos que dignificaram a vida da criatura humana. E um deles eu registro, repetindo aqui o Jorge Goularte e outros, foi a Mila Cauduro. A Mila deu uma demonstração de grande visão do desdobramento do processo político, cultural e histórico das ditaduras. Ela sabia, tinha consciência de que, dia mais, dia menos, o poder não resistiria ao inconformismo e à rebeldia de todo o povo brasileiro. Ele iria se enfraquecer, ele iria ser absorvido pela própria vontade popular. Eu me lembro, Mila, no nosso próprio Partido – e é normal no partido da gente ter alguns “Espíritos de Porco” quando você ia falar, eles diziam: “olha ela aí, de novo, falando sobre isto, só sabe falar sobre isto.” Isto dentro do próprio partido. Como naquela época, agora, como no nosso partido, e como em todos os outros partidos, esta falta de qualidade e de grandiosidade, não é um privilégio do nosso partido, é uma condição do desenvolvimento, e até de compreensão da própria humanidade, até porque os partidos políticos são constituídos de pessoas, não são de santos, que tenham sublimizado o seu pensamento, nem de bestas que não raciocinem e, consequentemente, ao raciocinar, expressem as suas próprias fragilidades, também como as suas próprias qualidades e virtudes. Lembro bem que a Lícia, a Mila e tantas outras, quando era campanha, quando elas ocupavam o espaço, e o sujeito que era candidato a Vereador, ou deputado, dizia “estão ocupando o nosso tempo”, não sabendo que ali estava sendo plantada uma semente muito importante que acabaria, mais cedo ou mais tarde, permitindo o retorno de centenas de milhares de brasileiros. E a anistia empolgou todo o País, não foi apenas a Mila, no Rio Grande, temos a Teresinha Zerbini, talvez uma das primeiras que empunhou, mas o que é de se salientar, é que foi a mulher que iniciou o processo de anistia no Brasil. Acho que a homenagem maior, para se mostrar a sensibilidade da mulher, não se poderia fazer. Voltemos ao Glênio: durante aquele tempo, o Glênio foi um homem que viveu exclusivamente para a cidade, não havia um projeto de que ele não participasse, com extremado vigor, com uma doação muito grande estudando desde os mais simples projetos, as mais modestas proposições, às mais complexas. E é do Glênio Peres uma legislação sobre o transporte coletivo, a primeira vez que se fez contabilidade pública dos fatores que entram na produção do transporte coletivo, é do Glênio, o princípio a que se referiu o nobre Ver. Hohlfeldt, e que toda vez que ultrapassar em 25% os valores das diferenciações, os preços dos insumos dar-se-á a fixação de uma nova tarifa, com uma única diferença, na época em que o Glênio fez isso, a inflação ao ano era de 30% e lamentavelmente esta boa intenção, a melhor das intenções do Ver. Antonio Hohlfeldt está sendo hoje atingida pela virulência de uma inflação galopante que não demora muito vai atingir 25% ao mês. Hoje, como naquela época também do Glênio, e é dele esta frase: “o Prefeito Municipal no Brasil é apenas um repassador de custo para a tarifa do transporte coletivo, mas é ele que leva a culpa de todo aumento desta tarifa”. Nós não aumentamos o combustível, nós não tratamos de pneus, de peças e acessórios, o preço do veículo não somos nós que fazemos. O nosso Glênio deixou neste campo uma bela contribuição. Durante o tempo em que convivemos houve um respeito mútuo; afinal de contas, nós éramos dois muito fortes, com vontades muito definidas e houve momentos de entrevero; houve momentos em que nós nos desentendemos, mas, passada a fase do desentendimento, havia no Glênio, muito mais do que em mim, a capacidade de retomar o vínculo da amizade, da fraternidade e da cordialidade. Eu não me lembro de nenhum momento em que o Glênio tenha feito qualquer menção a desonrar, a falar mal de qualquer uma pessoa. Ele buscava sempre ressaltar a virtude de seus adversários e a tentar compreender o porquê de algumas posições e alguns comportamentos políticos. Eu poderia dizer que o Glênio vivenciou trabalhando. Foi acima de tudo autêntico – só é autêntico aquele que prega as idéias e tenta realizá-las sob pena de ficar apenas no campo teórico, na pregação isolada, estéril de idéias, sem que seja um pregador, sem que seja um lutador para transformar as teorias, os postulados e os princípios em práticas capazes de melhorar as condições de vida da nossa gente. Depois, passado o tempo, nos encontramos: ele como candidato a Vice e eu como candidato a Prefeito. O que nós aprendemos com Glênio sobre Porto Alegre? E olha que estou em Porto Alegre há muito tempo, mas ele tinha para cada problema de Porto Alegre, um projeto na cabeça, para cada situação de Porto Alegre ele tinha uma solução estudada, demoradamente, profundamente, mensurada, medida. Um conjunto muito grande dessas idéias hoje estão no plano de Governo do PDT que nós estamos implementando e felizmente estamos colhendo os resultados na Semana de Porto Alegre. Eu gostaria de lembrar várias dessas proposições a partir da Secretaria Municipal de Cultura, que é dele e da Alícia. Foi a Alícia quem nos ajudou a elaborar princípios básicos para que, criada a Secretaria de Cultura ela pudesse ter êxito e não ocorrer com ela o que aconteceu com outras Secretarias, a nível estadual e a nível municipal que, sem conteúdo, sem uma programação, sem um planejamento, teve apenas um nome: Secretaria Municipal de Cultura, ou Secretaria Estadual de Cultura. Pois muito bem, a contribuição do Glênio e da Alícia, em quatro mãos, para a criação da Secretaria de Cultura e para a programação nossa na Secretaria de Cultura, já foi recebida pelo nosso companheiro Joaquim José Felizardo e é uma palavra de ordem nossa criar as oficinas culturais, para que os agentes culturais possam também fazer nas vilas, nos bairros, em toda parte, a tentativa de captar culturas populares e transmitir também a cultura da própria elite para as nossas carências, para os nossos segmentos mais carentes. Eu gostaria de dizer que acompanhei nos últimos dias do companheiro Glênio, e ele foi um bravo. Em nenhum momento se ouviu dele qualquer queixa e se é de se salientar o comportamento do Glênio perante a morte, uma coisa deve-se dizer: era o amor à vida que o Glênio tinha. Ele não acreditava na morte, até os últimos momentos lutando desesperadamente, certamente com a consciência muito profunda da sua enfermidade, do que estava lhe acontecendo, mas ele não acreditava, ele tinha absoluta convicção de que não iria morrer. Quem sabe se ele não estava certo? Quem de nós está certo de que depois da vida material não há uma outra vida? Quem de nós pode afirmar com absoluta convicção de que caída a matéria, caída esta carcaça, o espírito não vai para outras paragens, para outras bandas, vivenciar outros momentos da evolução espiritual do indivíduo? Quem de nós pode achar que apenas esta passagem pela existência tão extremamente curta perante a eternidade pode traduzir aquilo que todo o humano ser tem na sua essência a idéia de um ser superior que é justo, que é bom, que é belo, E se é justo, se é bom, se é belo se criara o mundo ...

Evidentemente, que não se sabe, se apenas somos o pequeno grão de areia diante do oceano da eternidade. Quem sabe se não é uma hora de, em nome do companheiro Glênio Peres, fazermos uma profunda reflexão, quem sabe se não é uma hora de avanço no campo da espiritualidade, estão aí os americanos, os russos fotografando o espírito, uma capa que o indivíduo tem. Quem sabe porque nós temos a pretensão diante de entre miríades de planetas, de satélites, de galáxias, só este grão de areia tenha vida? Por que o ser humano é tão balaqueiro, tão pretensioso? Acha que só neste mundinho de nada, que só aqui possa se ter vida, se há em tudo uma lei sábia, uma lei profundamente sábia no macro e no microcosmo desde a semente que se põe na terra que busca o sol, aos astros, que cumprem nas suas galáxias as determinações das suas leis por que não admitirmos um momento de dúvida pelo menos, senão de convicção, pelo menos de dúvida de que depois daqui tenhamos, eu tenho convicção, estou absolutamente convencido que na poeira dos séculos, a vida do indivíduo passa por centenas de milhares de experiências em busca do permanente aperfeiçoamento.

Imaginem, se fosse só esta vida que imagem e semelhança de Deus nós teríamos? Que aperfeiçoamento nós conseguiríamos em 50, 60, 100 anos, quando a eternidade não tem princípio e não tem fim?

Quem sabe a gente não faz uma reflexão numa hora como esta e talvez, mais humildes, possamos deixar alguma dúvida a respeito do que vem depois da morte? Eu não creio na morte, creio que o companheiro Glênio está absolutamente vivo, não apenas na nossa memória, porque isso é da natureza, da matéria e do nosso corpo, enquanto estivermos vivos ele estará na nossa lembrança. Mas eu estou falando de algo acima disso, de uma sobrevivência da alma para aos poucos buscar a sua própria perfeição. No meu entendimento isso tem me respondido melhor as minhas questões, os meus questionamentos, quando perdi um filho afogado eu me questionava, mas por que ele? Tão novo, tão jovem, por que não eu? Por que acontecem essas coisas com as criaturas humanas? E alguns então dirão, mas isso então é o fatalismo, não deixa absolutamente nada para o livre arbítrio, para a determinação, para o encaminhamento da criatura em busca do seu próprio aperfeiçoamento, das rotas que ele pode obter com sua ação e os seus atos? Não. Eu acho que nem 100 nem 0, nem 8 nem 80, vamos só fazer isso, admitir sem pretensão e sem orgulho. Como nós somos orgulhosos! Como somos extremamente pretensiosos! É isso e acabou. Não é assim: o que ontem não era uma verdade hoje é, o que ontem era a ignorância no sentido de desconhecer, pode não ser hoje.

O que eu quero, deste Plenário, não é a convicção sobre a futura vida, é apenas o momento de dúvida sobre algumas idéias. O Marxista, por exemplo, e eu tenho me aprofundado, desde alguns anos, nesse estudo, posso até não compreender muito, quando falar sobre a matéria, eu responderia que o espírito também é uma matéria. Só que o espírito é uma matéria que é incapaz, ela está impossibilitada do conhecimento dos nossos sentidos, pelo nosso atraso. Mas tudo o que existe é matéria, o que não existe não é matéria. A alma, o espírito, o corpo, a pedra, a montanha, a alma, o vento, é matéria. Eu só gostaria que vocês refletissem comigo sobre essa reflexão. Porque eu acho que o melhor mesmo é que que tenhamos dúvidas. Eu tenho muito medo daqueles que se consideram donos absolutos da verdade. Por isso, Glênio Peres, nós estamos aqui homenageando postumamente a tua memória, para dizer, também, que a nossa Administração, com a tua ajuda, está colhendo o resultado do esforço. A tua comissão de Humanização do Centro está funcionando segundo a tua própria orientação; ali, onde tu vivenciavas e amavas o teu Mercado, o teu Chalé, o teu Restaurante Dona Maria, nós estamos fazendo aquilo que tu querias e começaste a fazer, recuperando o Mercado, recuperando as ruas. Já se pode passar, hoje, na Voluntários, na Marechal Floriano, da Dr. Flores, já se pode, inclusive, Glênio, passar na General Câmara, na Rua Uruguai e vamos, também, dentro de pouco tempo, vamos remanejar o sistema de transporte coletivo e criar um grande monumento ao Glênio Peres, o Largo Cívico Glênio Peres, onde hoje são os terminais dos ônibus na Praça XV. E ali, Glênio, se Deus quiser, além de um busto, nós vamos ter a animação permanente para as atividades culturais que tu tanto amaste, para as quais deste um grande pedaço da tua vida, da tua inteligência e do teu talento. Já estou vendo, Glênio, em cada canto uma arte, em cada lugar uma expressão e uma manifestação de espírito, seja nas artes plásticas, na música, seja na pintura, seja em qualquer forma de expressão. O nosso Secretário Joaquim está recomendado de, imediatamente, pensar na animação permanente do Larvo Cívico, e nos grandes comícios, grandes espetáculos musicais e teatrais, que nós imaginamos fazer ali, no Largo Cívico Glênio Peres. Nós já estamos pensando, inclusive, em palcos móveis, de pré-moldados, que possam ser montados, na hora da necessidade dos grandes espetáculos; já estamos pensando em pré-moldados, para fazer grandes palanques e grandes comícios, para buscar, permanentemente, o aperfeiçoamento da democracia, o vivenciamento da liberdade, em busca, cada vez mais forte da igualdade, que eram os pilares que sustentaram a vida linda, bela, fascinante, generosa, fraternal, cordial e amiga do nosso querido Glênio Peres. Meu querido Glênio Peres, teus amigos e os teus irmãos só poderemos te prestar uma homenagem, e eu sei que tu vais dizer: “Trabalhando, tentando executar as tuas idéias.” Nós vamos tentar. Muito obrigado. (Palmas.)

 

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESDENTE: Ao encerrar os trabalhos desta Casa quero, inicialmente, como homenagem a Glênio Peres, dizer que, apesar da sua personalidade muito forte, que nos levava, dia-a-dia, a concordar, a discordar, Vereador que conosco conviveu durante 10 anos, com excecção de dois destes 10, que a ditadura arrebatou desta Casa, quero dizer que a Casa de Porto Alegre, que a Casa onde ele esteve por tão longo tempo não está exatamente igual ao que certamente ele desejaria, até porque os tempos, no Brasil, são rigorosamente nebulosos. No entanto, cada um de nós, com assento nesta Casa, tem algumas divergências, mas, sobretudo, temos convergências, ou seja, no sentido de abrirmos a Casa, de tentarmos dar dignidade à Casa num país difícil de obter-se dignidade. Temos refletido sobre sua passagem. Nos sentimos à vontade  para colocar, diante do Sr. Prefeito, das autoridades aqui presentes, da Da. Mila e de todos que sabem que, ao correr dos anos Glênio Peres foi sempre, nesta Casa, um divisor de águas nas quais, muitas vezes, nos situamos do outro lado. Não é por acaso que em dez anos de vivência disputamos, seguramente, e o Ver. Cleom Guatimozim pode dizer, a liderança, quer do MDB, quer do PDT, uma disputa saudável que, ao longo do tempo, nos ensinou a nos respeitar como afirmava o Sr. Prefeito de Porto Alegre.

De tal sorte que, no ato que se faz hoje, também se faz uma prestação de contas, onde nove partidos falam. E nove partidos, divergindo ou convergindo com Glênio Peres, reconhecem que a pluralidade de idéias é saudável ao debate, e isto era exatamente o que colocava Glênio Peres. Isto nós temos feito. Meditamos muito sobre o que poderíamos fazer sobre a Casa e, em comum acordo com as Lideranças, instituímos um prêmio, porque, por mais que se diga do Glênio Peres político, nós ainda estamos a julgar que, antes de tudo, Glênio Peres era um cultor das artes e da cultura. Jamais, como parlamentar, como político, abdicou ele desta sua condição. Por isto, a Câmara Municipal instituirá um prêmio que leva o seu nome e que conjuga a sua atividade parlamentar, de Vice-Prefeito, com a sua condição de homem voltado às atividades culturais desta cidade. Este prêmio se destinará as melhores poesias e monografias sobre a cidade de Porto Alegre, tudo isto em comum acordo com todas as Lideranças da Casa e todos os membros da Casa, indiferentemente de partidos políticos. Glênio Peres deixa, enfim, para nós, um alento de continuarmos na vida pública, no sentido de sabermos que ela é bastante ingrata, mas consegue, neste momento, neste justo momento, agregar – e me permito citar – até o Sr. Ver. Jorge Goularte, que, junto com ele, ou contra ele ,com ele, até ao esforço pessoal, o qual nós assistimos, por um mero desentendimento casual e outros de fundo político, que eram bastante fortes. Conseguiu isto porque, sobretudo, Jorge Goularte respeitava a figura de Glênio Peres e suas idéias. Quero, também, deixar registrado que a figura de Glênio Peres envolve esta Casa num fato singular, não só num verão doloroso em que assumíamos o nosso mandato, com 14 Vereadores de oposição, com maioria absoluta, portanto, S. Exa. era eleito por unanimidade, líder da bancada, fazia o seu primeiro discurso e era cassado; seu vice, por indicação dele próprio, era o Ver. Marcos Klassmann, e singular isso, o Prefeito de Porto Alegre parou toda a Nação, porque cassaram Glênio e Marcos, e Porto Alegre foi declarada, naquele momento, vamos dizer, a área, em todo o Brasil, de atenção e, acho desproporcional até, todo poder central parece que via em Porto Alegre uma trincheira contra o regime ditatorial que então vivíamos. Passados esses tempos, vivemos um segundo momento que marca a história de Porto Alegre: vivemos juntos, Ver. Cleom Guatimozim, Presidente da Câmara Municipal de então, e este Vereador, líder da bancada de oposição, o MDB, decidíamos que Glênio e Marcos deveriam reassumir e, para tal, não fomos levianos, Sr. Prefeito. Constituímos, preliminarmente, uma comissão que me permito citar, para levar o fato ao conhecimento das autoridades Federais, dizendo que daríamos posse, tendo em vista a legislação de então, fazendo parte dela, os Ver. Elói Guimarães, Wilton Araújo e Sady Schwer. Essa comissão, Sr. Prefeito, foi a Brasília e disse: “Nós vamos dar posse”. Para surpresa nossa, sobre isso poderá depor melhor o Presidente da Casa de então, Ver. Guatimozim, as autoridades não queriam que houvesse essa posse e, novamente, os canhões da ditadura se voltaram para Porto Alegre. Naquele prédio da Prefeitura Nova, cheia de policiais federais, o Ver. Cleom Guatimozim, com o apoio irrestrito da Bancada de Oposição e com alguns membros da Situação, inclusive o Ver. Jorge Goularte e o Ver. Raul Casa, a Vera. Bernadete Vidal, e outros que eventualmente – me falha a memória – Ver. Frederico Barbosa, não interessa os nomes, mas aqueles nomes à época garantiram a posse contra tudo e contra todos. Glênio ensejou, junto com Marcos Klassmann, um momento na história do Rio Grande do Sul, sobretudo desda Cidade. Não é por acaso que Porto Alegre está escrita como “mui leal e velerosa”. Alguns atos devem ser destacados. Tudo isto nos envolveu, tudo isto serve como mote, neste momento, para dizermos que cada um de nós, da sua forma e do seu jeito e dentro dos seus princípios e de seus ideais políticos, procuraremos buscar na figura de Glênio Peres, controvertida – tão forte – como dizia o Sr. Prefeito, inspiração para continuarmos neste mundo difícil que é o mundo político, onde a figura do herói e do vilão se segue no dia subseqüente ao anterior. Esta é a nossa missão, esta é a curta prestação de contas a Glênio Peres. Temos 9 Bancadas, temos uma Casa aberta e tentamos criar uma democracia; apesar de sermos como Município, uma terminal, uma UTI dos problemas sociais brasileiros, apesar disso continuamos a trabalhar dentro daqueles princípios que enunciavam da tribuna da Câmara Glênio Peres. Preocupa-nos só uma coisa: amantes de Porto Alegre morrem e alguém deve sucedê-los. A lacuna de Glênio Peres é muito forte, independente de convergências ou divergências. Vamos pensar nisso, que alguém precisa ocupar o lugar de Glênio, não exatamente o lugar, mas o espaço que ele representava e que ora nos deixa. Busquemos nas idéias dele e repassemos a outros, para podermos continuar com a nossa Cidade leal, valorosa e, sobretudo, bonita, como todos nós trabalhamos para isso e desejamos.

Agradeço, em nome da Câmara Municipal de Porto Alegre, a presença do Sr. Prefeito, dos Srs. Componentes da Mesa, dos Srs. Secretários Municipais, Diretores de autarquias, serviços municipais e de todos aqueles que fizeram parte desta Sessão.

Estão encerrados os trabalhos.

 

(Levanta-se a Sessão às 12h 03min.)

 

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