ATA DA QUINTA SESSÃO SOLENE DA SEXTA SESSÃO LEGISLATIVA ORDINÁRIA DA NOVA LEGISLATURA, EM 25.03.1988.
Aos vinte e
cinco dias do mês de março do ano de mil novecentos e oitenta e sete reuniu-se,
na Sala de Sessões do Palácio Aloísio Filho, a Câmara Municipal de Porto
Alegre, em sua Quinta Sessão Solene da Sexta Sessão Legislativa Ordinária da
Nona Legislatura, em memória do ex-Vereador e Vice-Prefeito Glênio Peres. Às
nove horas e cinqüenta e nove minutos, constatada a existência de “quorum”, o
Sr. Presidente declarou abertos os trabalhos e convidou os Líderes de Bancada a
conduzirem ao Plenário as autoridades e personalidades presentes. Compuseram a
Mesa: Ver. Brochado da Rocha, Presidente da Câmara Municipal de Porto Alegre;
Dr, Alceu Collares, Prefeito Municipal de Porto Alegre; Dr. Luiz Alfredo Paim,
representante do Procurador-Geral da Justiça do Estado; Ver. André Forster,
Diretor da METROPLAN; Dr. Ivan Ferreira, Assessor Superior do Gabinete do
ex-Vice-Prefeito Glênio Peres; Sra. Mila Cauduro, Secretária Geral da Executiva
do PDT; Ver. Rafael Santos, 2º Secretário da Casa. A seguir, o Sr. Presidente
informou que já se encontra em Pauta, 3ª Sessão, o Projeto de Resolução nº
484/88 que institui o Troféu de Poesia e Monografia Glênio Peres, e concedeu a
palavra dos Vereadores que falariam em nome da Casa. A Vera. Jussara Cony, em
nome da Bancada do PC do B, destacou a tenacidade sempre demonstrada pelo Sr.
Glênio Peres em sua participação nas lutas em prol do Socialismo, da liberdade,
da democracia e da justiça social para o nosso povo. Disse que a presente
Sessão resgata a própria história de Porto Alegre e referiu-se à pessoa da Sra.
Lícia Peres, como companheira do Sr. Glênio Peres em sua luta pela construção
de uma nova sociedade. O Ver. Raul Casa, em nome da Bancada do PFL, comentou o
trabalho político realizado pelo Sr. Glênio Peres, em busca dos ideais
socialistas nos quais acreditava, enfatizando a presença constante do lado
humanitário na vida de S. Sa. O Ver. Clóvis Brum, em nome da Bancada do PMDB,
associou-se às homenagens prestadas pela Casa ao Sr. Glênio Peres, discorrendo
sobre a vida política de S. Sa. E sua capacidade como Líder de Bancada desta
Casa. Salientou a atuação de S. Sa., juntametne com outros brasileiros, na
busca da anistia para o país. O Ver. Lauro Hagemann, em nome da Bancada do PCB,
teceu comentários sobre o Jornalista Glênio Peres e sua incursão na vida
política, declarando ter S. Sa. honrado os ideais aos quais se dedicou. Disse
que Porto Alegre, com a morte de Glênio Peres, perdeu um homem apaixonado pela
Cidade e sempre presente nas lutas democráticas em favor dos pobres e
oprimidos. O Ver. Jorge Goularte, em nome da Bancada do PL, dizendo ter sido um
dos Parlamentares que mais discutiu com o Sr. Glênio Peres quando de sua passagem
pela Casa, ressaltou o talento e a competência de S.Sa. Congratulou-se com o
Pref. Alceu Collares, por ter inserido a presente homenagem nos eventos
relativos à Semana de Porto Alegre. O Ver. Rafael Santos, em nome da Bancada do
PDS, comentou a atuação do Sr. Glênio Peres, como Líder de Bancada nesta Casa,
salientando suas posições coerentes com o bem-estar da população e declarando
que, apesar de não ter nascido aqui, Glênio Peres amava a Cidade e era, acima
de tudo, um cidadão porto-alegrense. O Ver. Pedro Ruas, em nome da Bancada do
PDT, falou sobre a vida do Sr. Glênio Peres, destacando, em especial, seu lado
humano que o tornou uma pessoa popular e respeitada por todos. Discorreu acerca
de sua atuação dentro da área pública, como um homem polêmico e que tinha
condições de ensinar o que é fazer política. E o Ver. Antônio Hohlfeldt, em
nome da Bancada do PT, discorreu sobre a honra e a alegria que é ter convivido
com o Sr. Glênio Peres, salientando sua presença como homem ligado à cultura e
grande responsável pela Expositur, onde realmente nasceu o “Festival de Cinema
de Gramado”. Declarou que o que mais o marcou na personalidade do Sr. Glênio
Peres, foi a sua tenacidade, o seu bom humor e a forma como administrava seus
projetos como Vereador deste Legislativo. Em continuidade, o Sr. Presidente
concedeu a palavra ao Pref. Alceu Collares, que comentou a vida pública do Sr.
Glênio Peres, atentando para sua presença constante nas lutas em benefício do
desenvolvimento de Porto Alegre. Salientou o papel da mulher no processo da
anistia brasileira, destacando os nomes de Mila Cauduro e de Alícia Peres. A
seguir, o Sr. Presidente fez pronunciamento relativo à solenidade e, nada mais
havendo a tratar, levantou os trabalhos às doze horas e três minutos, convidando
as autoridades e personalidades presentes a passarem à Sala da Presidência e
convocando os Senhores Vereadores para a Sessão Ordinária da próxima
segunda-feira, à hora regimental. Os trabalhos foram presididos pelo Ver.
Brochado da Rocha e secretariados pelo Ver. Rafael Santos. Do que eu, Rafael
Santos, 2º Secretário, determinei fosse lavrada a presente Ata que, após lida e
aprovada será assinada pelos Senhores Presidente e 1ª Secretária.
O SR. PRESIDENTE: A presente Sessão insere-se
nas comemorações da Semana de Porto Alegre e deveria ser realizada em um
período de Sessão Ordinária desta Casa, mas, posteriormente, por deliberação do
Plenário e com a indicação também do Poder Executivo, através do Sr. Prefeito,
foi transformada numa homenagem ao Vice-Prefeito de Porto Alegre e, sobretudo,
Vereador de Porto Alegre, Glênio Peres.
Aproveito a oportunidade para registrar que já se encontra em 3ª Sessão
de Pauta o Projeto de Resolução nº 484/88, que institui o Troféu de Poesia e
Monografia Glênio Peres, a ser concedido de forma individual anualmente.
Dando seqüência à Sessão, seguindo a ordem dos inscritos, passamos a
palavra à Verª. Jussara Cony, que fala em nome do PC do B.
A SRA. JUSSARA CONY: Sr. Presidente, Srs.
Vereadores, componentes da Mesa, companheiros, companheiras, população de Porto
Alegre, estamos na Semana de Porto Alegre e muitos de nós viemos de longe, de
outras plagas. Me permitam, primeiro, dizer, do Cacequi, de Bagé, do
Livramento, de Lavras do Sul, como Glênio Peres. E Porto Alegre como que nos
assume, parece até que nos adota, nos abre seus caminhos, nos dá o Guaíba e o
pôr-do-sol. Porto Alegre nos envolve, nos encampa. Porto Alegre nos prende.
Mas, em alguns é como que algo mágico. E, às vezes, é preciso que um se vá
para, num momento de reflexão, a gente entender. E quando Glênio Peres se foi
eu entendi isto, entendi esta magia, a magia de um homem em unidade com um
lugar. Eu senti que Glênio como que estabeleceu uma relação de amor com Porto
Alegre, mas uma relação de amor, digo.
Permitam-me todos perguntar: como homenageá-lo? De que modo se faz uma
homenagem a quem estabelece uma relação assim, de amor e de luta com um lugar?
Fui buscar nos amigos e companheiros de luta de Glênio, na tentativa de
fazer esta homenagem. Fui buscar no Marcos Klassmann e na Magda Wagner, na Vera
Breda, no Paulo Pereira e Silva, no Ivan Ferreir, no Adão Gonçalves Dias, no
Rafael. Fui buscar, dizia, o conhecimento mais profundo de sua vida, de sua
militância. Além do que eu mesmo havia participado no processo de luta contra o
regime militar ao lado de vários companheiros, entre os quais, Glênio e Lícia
Peres. Nesse conhecimento, a certeza de que sua vida e militância se confundem
com a própria história desta Nação, confundem-se com a resistência de nosso
povo, aqui, em Porto Alegre e em todo país. País que, certamente, mais do que
nunca precisa da unidade do Povo, País que, certamente, precisará contar com
muitos da fibra e do valor de Glênio Peres para vencer o arbítrio e a
prepotência, para vencer o atraso e o conservadorismo reinante, para vencer o
atraso, para conquistar a liberdade, a democracia, a justiça social, enfim,
para conquistar o socialismo. É bom lembrar que Glênio começou a trabalhar como
baleiro e trocador no “Capitólio” porque isso nos faz lembrar uma época da
Cidade e de nossa vida, dos nossos matinês da vida. É bom lembrar Glênio
Jornalista, o compromisso com a notícia e com a notícia, não com a neutralidade
que aliena, mas com a responsabilidade de formar consciências críticas. Suez, a
guerrilha de “Chê”, o Movimento Tupamaro, “Cadernos do II Mundo”, Pasquim,
Espaço democrático. É bom lembrar também o que legou ao teatro, à música, às
Artes Plásticas, principalmente levando em consideração o descaso com que os
setores dominantes, detentores do poder político e econômico, tratam a cultura
e a arte, principalmente a cultura e a arte popular.
Se é bom lembrar Glênio, animador, baleiro, trocador ou jornalista, é
imperioso resgatar Glênio o político, o militante, o Vereador por 2 décadas, o
mais votado da história desta Cidade. O Vice-Prefeito, primeiro eleito, após o
arbítrio de mais de 20 anos, e, em todas essas atividades, a relação de amor e
luta por Porto Alegre. Mas é mais do que imperioso, é necessidade histórica
Glênio Peres, cassado pelo Governo Geisel, quando se pronuncia, nesta Câmara
Municipal denunciando torturas e violências contra presos políticos, torturas e
violências contra o povo desta Nação.
Glênio Peres, que 12 dias após viu seu amigo e companheiro de luta
Marcos Klasmann, também, pelo ditador de plantão, ser cassado, ou como disse
Glênio ao retornar à tribuna desta Casa: “Eu falava, quando fui interrompido
por um General de plantão”. Glênio Peres que atuou em campanhas de apoio ao
Conesul, que atuou na campanha de anistia. Glênio Peres que disse no “Diário de
Campanha”, pag. 35 – “Registre se à Cidade e aos Anais da Câmara Municipal de
Porto Alegre. Eu fui cassado, não exclusivamente pelo discurso em que denunciei
a tortura sistemática, mas também pela acumulação dos processos de informação
da ditadura militar, que funciona pelo número de dados fornecidos pelo
dedurismo institucionalizado por um acompanhamento da vida do cidadão. O regime
concede que ele atue de tal maneira, que realmente se torne evidente a sua
incompatibilidade absoluta e total com o sistema. Essa situação se configurou,
no meu caso, com a experiência de luta, de convívio com as vítimas de ditadura,
vendo pessoas cassadas, companheiros desaparecidos; assistindo a situações de
prisioneiros e fazendo a ligação desses com seus familiares. Diante dessa
situação e saturado de tanto arbítrio, decidi que, ao assumir o meu 5º mandato,
ele só teria sentido se iniciasse com a declaração de princípio evidente de que
eu era consciente das injustiças que aconteciam. Eu acreditava que só
dignificaria o novo mandato que recebi do povo, se denunciasse, no momento da
solenidade oficial, com todas as autoridades militares presentes, com todas as
autoridades do Estado instituídas pela força, evidências de tudo o que eu sabia
sobre torturas.
O texto do meu discurso foi comunicado imediatamente através dos órgãos
de informações locais e nacionais ao então General do dia, Gal. Ernesto Geisel,
que, naturalmente, naquela noite me cassou os direitos políticos”.
Senhores e Senhoras, tenho para mim, que estamos hoje, na Câmara
Municipal de Porto Alegre, na Semana desta Cidade, mais do que prestando uma
homenagem a um lutador do povo. Estamos resgatando a própria História de Porto
Alegre, deste Legislativo, dos homens e mulheres desta Cidade, por democracia e
liberdade. Com o mesmo respeito que dedicamos a Glênio Peres em vida. Na Sessão
que ocorria nesta mesma Câmara, há um ano da morte de Velneri Antunes, eu
dizia, desta tribuna, e repito, que não acredito na eternidade da vida. Para
mim há a eternidade histórica e esta é alcançada por quem ousou desafiar as
estruturas dominantes e empurrar a história para frente.
Permitam-me, Senhores Componentes da Mesa, Srs. Vereadores,
Companheiros de luta, ao finalizar, a referência necessária à companheira de
luta mais próxima de Glênio; Lícia Peres, sua mulher, lutadora pela Anistia,
liderada por Mila Cauduro, militante do coletivo de mulheres do Rio Grande do
Sul, onde temos travado batalhas por nossa emancipação e pela libertação do
nosso povo.
Referência necessária, entendemos neste momento, porque sempre
vislumbrei, na luta de Glênio e Lícia, o princípio fundamental de que homens e
mulheres, explorados e oprimidos, lado a lado na luta contra a opressão,
poderão construir uma nova sociedade. Uma sociedade socialista. Assim entendo
Glênio Peres, vivo na eternidade da história, em Porto Alegre, uma relação
mágica de amor e luta. Muito obrigada. (Palmas.)
(Não revisto pela oradora.)
O SR. PRESIDENTE: A Mesa concede a palavra ao
Ver. Raul Casa. S. Exa. falará em nome da Bancada do PFL.
O SR. RAUL CASA: Sr. Presidente, Srs.
Vereadores, triste momento vive esta Casa nesta hora. Transcorre, já, um mês,
que Glênio nos deixou. Fui colega de Glênio durante quase uma década na RBS.
Fui colega de Glênio nesta Casa. Posso dizer, até, que eu o conhecia com uma
certa intimidade. Glênio foi um inconformado e isto lhe ditou a vida pública,
penosa e trepidante. Mas sua vida foi um marco de fortaleza e de coerência.
Glênio tinha um estilo próprio, seu, só seu. E o estilo gradua-se
proporcionalmente ao tema. O estilo representa uma idéia, uma sensação. Sua
oratória, no descritivo das paixões arrancadas pelas impressões das coisas
materiais ou morais, produziam imagens de movimento da linguagem, movido pela
vibração. Nisso, Glênio foi insuperável. Tanto ardor e tanto talento geraram
uma segurança e uma firmeza de espírito, que só se explica pelo efeito de uma
intensa cultura e uma profunda vivência humana. Glênio foi um crítico. A
crítica não ensina a política, mas ensina a compreendê-la. A certeza da vida
não nos é garantida pelas instituições, mas pelo amor, pelo amor que
cultivamos. Glênio foi um amoroso, e por isso, sua memória está garantida para
sua família, para nós, para esta Cidade que tanto amou para a humanidade que queria
vê-la melhor. Glênio foi sempre um homem consciente. A consciência com o
coração, e o coração deve ser aquecido pelos sentimentos, precisa abarcar
horizontes largos. O dever nada vale, quando falta sublimidade. E a própria
vida torna-se vulgar, quando não se tem a insipirá-la o sentimento da grandeza
humana. Glênio foi um grande ser humano. Muito obrigado. (Palmas.)
(Não revisto pelo orador.)
O SR. PRESIDENTE: Com a palavra, o Ver.
Clóvis Brum, que falará em nome da Bancada do PMDB.
O SR. CLÓVIS BRUM: Sr. Presidente, Srs.
Vereadores, minhas Senhoras e meus Senhores, há momentos em que fazer um
discurso nesta tribuna é fácil; há momentos em que fazer um discurso aqui se
torna um pouco difícil; e há outros momentos em que fazer um discurso, por mais
breve que seja, se torna até doloroso. Eu tenho adiado, fugido, por que não
dizer, e insistido com o Líder da minha Bancada para que me dispense de me
pronunciar na tribuna. A Casa é testemunha de que não tenho feito discursos há
algum tempo. Acho, Sr. Presidente e Srs. Vereadores, que este tipo de discurso,
que exige muito da alma, do coração da gente, também judia da gente,
principalmente quando se reúne a Câmara de Porto Alegre para saudar, para
homenagear um homem como Glênio Peres, da estirpe, da envergadura, do porte, da
luta e do conhecimento de Glênio Peres. Entretanto, senhores, em nome da
bancada do PMDB desejamos nos associar às homenagens que a Casa presta a Glênio
Peres sem, no entanto, deixar de alinhar algumas considerações como justiça e
reconhecimento a Glênio Peres e a sua luta: Vereador competente, conhecedor de
todos os problemas desta cidade, aliás, se costumava dizer que Glênio amava
esta cidade como nenhum outro; homem de imprensa, ligado não só às lideranças
políticas, mas também liderança partidária – o Glênio gostava muito de
participar da organização do partido -; eu diria que, como líder de bancada foi
um exemplo: eu tive a honra de ser liderado por Glênio Peres; as informações,
as suas orientações, como líder, nunca deixou de transmitir uma grande lição:
de manhã, no gabinete de cada Vereador de sua bancada estava o recorte do
jornal feito por ele, sobre o assunto que cada Vereador debateria naquele dia,
nesta Casa. Uma orientação infalível, como líder de bancada, e me perdoem os demais
líderes, mas, até agora, ele ainda é insubstituível, até nisso. Primeiro o
discurso do reeleito Vereador e líder de bancada Glênio Peres, lhe custou nada
menos do que a cassação de seu mandato. Não dizia nada mais do que a verdade
dos fatos que ocorriam no Brasil de então, mas, nós tínhamos certeza de uma
coisa: que quando nós subimos para o palco da existência humana, não somos nós
que criamos os discursos, nem as situações, nem as crises econômicas, nem a
miséria, nem a fome, apenas tentamos melhorar, minimizar, aliviar tais
sofrimentos, tais crises. Glênio queria apenas ver o seu povo, esta cidade,
este País num clima de democracia, de liberdade, queria apenas que o povo
pudesse votar, ser livre, que os parlamentos pudessem falar, discursar, ter
vida própria, que na palavra de cada membro do parlamento fosse a palavra do
povo que o elegeu, era isso que Glênio queria. Não entenderam assim os
militares. Sucedido pelo jovem Vereador, combativo, Marcos Klasmann, Marcos que
também teve a mesma sorte, no seu discurso de posse lhe cobraram o seu mandato
e aí é que nós vemos a grandeza do espírito político desses homens, deram o seu
mandato, ofereceram o seu mandato à causa maior, à causa da liberdade.
Glênio era um lutador, ninguém de sã consciência que tenha assento
nesta Casa pode dizer que Glênio não deixou exemplo do bom combate, do combate
leal, acima de tudo, leal. Glênio era um combatente leal, um exemplo de
combatente. Mas não era o Glênio em si, era um conjunto, eram idéias, posturas,
definições, era uma luta onde se somavam homens e mulheres, homens e mulheres
pioneiros nos grandes embates da busca da democracia, da redemocratização deste
País. E, entre esses homens e essas mulheres, me dá honra de ver nesta Mesa a
grande comandante da Anistia, dona Mila Cauduro, que nos momentos mais
difíceis, quando não se podia falar, quando a voz dos líderes eram cerceadas, a
dona Mila Cauduro, extraordinária mulher, ao lado da mulher de Glênio Peres, da
dona Lícia, da dona Quita e de tantas outras, se levantavam em busca da
Anistia, objetivo maior do espírito brasileiro. Eram poucas as mulheres,
pouquíssimas, dava para se contar nos dedos; era como se fosse um pingo d’água
a começar no cume do monte. Daí a um pouquinho mais esta idéia foi se
desenvolvendo e este pingo d’água se somando a outros, foram deslizando em
direção à planície. E acreditem, em pouco a planície estava inundada com a
idéia da Anistia. Era dona Mila e um milhão, milhões de brasileiros a sonhar
com a Anistia. Ela não foi um presente, a Anistia, onde Glênio também esteve
contemplado por coragem do Plenário desta Casa, não foi um presente. Foi uma
conquista destas mulheres maravilhosas e dos homens que souberam compreender o
momento que se passava neste País. Mas Glênio esteve sempre presente nestes acontecimentos.
Aliás, nos dizeres de Dorival Fontes, saudoso Desembargador de Santa Catarina,
se diria que Glênio Peres era homem de um só querer: “antes morrer do que
volver”. A idéia de Glênio era a democracia, era o Parlamento falando, era o
discurso raro, inteligente, era o orador coerente, exemplo, escola, dominava
esta tribuna como só ele. O grande Vereador,
grande Vice-Prefeito, o grande homem público, que esta Casa tem, não
digo o privilégio, mas a honra de lhe prestar, nesta manhã, esta homenagem. É
uma homenagem que passa pelo pensamento político da Casa, que passa pelo
coração e pela alma daqueles que, como Glênio Peres, sonharam com um País livre
para o seu povo e para os seus filhos. Poucos, muito poucos alferes como Glênio
Peres ofereceram a sua vida pública e até a sua própria vida no combate, na
luta por melhores dias para os seus, para os seus concidadãos. Que bom, Sr.
Presidente, Prefeito Collares, demais autoridades, que bom que esta Casa
tributa, na Semana de Porto Alegre, uma homenagem ao seu homem de cultura, ao
seu político, ao seu Líder partidário, ao seu Vereador, ao seu tribuno, ao seu
Vice-Prefeito, ao imortal Ver. Glênio Peres. Muito obrigado. (Palmas.)
(Não revisto pelo orador.)
O SR. PRESIDENTE: Com a palavra, o Ver. Lauro
Hagemann, que falará em nome da Bancada do PCB.
O SR. LAURO HAGEMANN: Sr. Presidente, Srs.
Vereadores, Senhores, Senhoras, amigos e companheiros de Glênio Peres. Não
poderia deixar de participar desta Sessão em homenagem à memória de Glênio
Peres, a quem conheci também quando jovem nos “Diários Associados” de Porto
Alegre, especialmente no “Diário de Notícias” e na “Rádio Farroupilha”, nos
idos de 1950. Glênio, como outros jornalistas ilustres desta Cidade e deste
Estado, como Josué Guimarães, Manuel Braga Gastal, Alberto André, Said Marques,
tiveram como corolários de suas atividades a incursão na atividade política.
Nisso Glênio cumpriu o seu fardo com inexcedível proficiência e bravura,
honrando o nome dos companheiros que também se destacaram nas lides políticas,
uma espécie de prolongamento das suas preocupações com a sociedade onde se
inseria e servia. Depois de ter convivido com Glênio, nos Diários Associados,
convivi também com Glênio político. Em 1964, no ano em que as forças
reacionárias se assenhoraram deste País, assumindo, também pela primeira vez, à
Câmara, tive a honra de ser saudado pelo Ver. Glênio Peres. Alguns episódios
haviam-nos separado, mas foram coisas passadas. Àquela Câmara se pode recordar
ainda a presença de duas ilustres personagens que hoje se encontram aqui: o
Ver. Cleom Guatimozim e o Prefeito Alceu Collares, então Vereador do PTB; Ver.
Cleom Guatimozim, então Vereador do PDC, e este Vereador.
São épocas que se lembra com saudade, mais isto não obscurece a luta
contínua de todos aqueles que naquela época lutavam contra o arbítrio, em favor
da população sofrida de Porto Alegre, como Glênio. Me recordo que Glênio foi
servir ao Executivo de então na Secretaria dos Transportes, um tema que sempre
o apaixonou. E talvez fosse esse somatório de lutas em favor dos amigos, dos
desassistidos, dos pobres, que tivesse levado o então Governo Geisel a
cassar-lhe o mandato, não por obra exclusiva do discurso que pronunciou. Muitos
outros antes disso, também, pelo mesmo somatório de lutas constantes e
contínuas haviam sofrido o mesmo castigo.
Sempre se disse, e é verdade: Glênio sempre foi um apaixonado de Porto
Alegre, como tantos outros de nós, que vieram de outras plagas, encontramos
aqui todos nós o abrigo desta cidade, Cidade cuja população nós procuramos
servir da melhor maneira que nos é possível, em retribuição a este amor, as
oportunidades que a cidade nos deu de aqui vivermos, de aqui crescermos, de
aqui constituirmos as nossas famílias, de aqui termos tido os nossos filhos.
Inegavelmente, Porto Alegre perdeu com Glênio Peres um de seus amantes
mais apaixonados. E é esta memória que não devemos esquecer e a qual nós
devemos prosseguir honrando. Muito obrigado.
(Não revisto pelo orador.)
O SR. PRESIDENTE: Pela ordem, o Ver. Jorge
Goularte, que falará em nome do PL.
O SR. JORGE GOULARTE: Sr. Presidente, Srs.
Vereadores, familiares de Glênio Peres, amigos, irmão, minhas Senhoras, meus
Senhores, é a segunda vez que se presta uma homenagem à memória de Glênio
Peres, nesta Casa. E, especialmente este Vereador não poderia ficar de fora
desta homenagem, pois, eu costumo dizer, e é verdade, que devo ter sido um dos
Vereadores que mais debateu com Glênio Peres e que mais divergência teve com
Glênio Peres e até mesmo por isso que tenho a tranqüilidade de, olhando nos
olhos dos seus amigos, do seu irmão, falar aos que estão aqui presentes e aos
Anais da Casa que são implacáveis.
Este Vereador, Militar do Exército Brasileiro, sargento oriundo do
nosso Exército brasileiro, tem a tranqüilidade de dizer, a todos aqueles que
ainda não sabem, que votou pela reintegração de Marcos Klassmann e Glênio
Peres, Marcos que está aqui presente e que neste momento eu saúdo. Há poucos
dias atrás eu fiz uma colocação e quero corrigí-la por que naquela oportunidade
o Ver. Paulo Santana também votou pela reintegração do Marcos e do Glênio. Além
de votar pela reintegração desses dois Vereadores, fiquei em Plenário para dar
“quorum”, apesar das ameaças de que se nós ficássemos em Plenário poderíamos
ser presos.
Então, me parece que as atitudes marcam mais que os gestos impensados,
do que o acalorado dos debates. Glênio Peres era um tribuno polêmico de muita
garra, muito talento. Era um poeta da palavra. E, defendia as suas idéias com
muita competência e altivez.
Eu repito, eu não poderia deixar, nas vésperas do trigésimo dia da
morte de Glênio Peres, de trazer a minha solidariedade à família, aos irmãos,
especialmente àqueles a quem eu sou muito chegado que é o Tasso e o Paulo, são
meus amigos pessoais. Paulo, meu colega de aula e o Tasso trabalhando nesta
Casa. A extraordinária mulher, sua esposa, Lícia Peres que deve ser citada como
um exemplo raro de companherismo e participação intensa com seu marido, até o
último momento. Algo de comover. É preciso que a gente cite os últimos dias de
Glênio Peres, era comovente a presteza, a dedicação, a veneração de Lícia
Peres, que aqui não está presente, mas que eu deixo a solidariedade pessoal a
do Partido Liberal.
Caro Prefeito, foi muito importante V. Exa. ter colocado na Semana de
Porto Alegre, esta figura que tanto fez por Porto Alegre e que, como quase
todos nós, veio para Porto Alegre e se integrou à Capital. Capital que V. Exa.
dirige com tanta competência e que eu de público agradeço pelo que vem fazendo
por Porto Alegre, com os recursos que tem, com as dificuldades que tem. Eu
diria de público: não me arrependo por ter feito a campanha que fiz.
Mas neste dia em que se enaltece a figura de Glênio Peres, que fique
aqui a palavra de alguém que divergiu dele, mas que foi muito mais justo na
hora da decisão que ele precisava do que muitos outros. Torno a repetir: estão
nos Anais da Casa, o Marcos está presente e é testemunha disto. O voto pela
reintegração é algo que foi pouco citado e as pessoas devem ter em conta.
Parece que foram os únicos atos de reintegração em todo Brasil. Os únicos 2
casos. Em todo Brasil, em que houve reintegração foi aqui em Porto Alegre pela
votação de reintegração dos cassados e pelo pulso firme do Ver. Cleom
Guatimozim. Lembro-me naquela Sessão histórica em que apenas nós, cinco
Vereadores, junto ao Cleom, recebendo ameaças que não devem nem ser mais
citadas, agüentando firme para dar posse a quem nós achávamos que tinha que
tomar posse, embora fosse nosso adversário dos mais ferrenhos, e o maior
adversário que nós tínhamos. Isso é que deve ser praticado pelo político, com
autenticidade. Divergi? Sim, muitas vezes! Mas não deixei de reconhecer a
justeza da reintegração e não deixo de reconhecer, hoje, como reconheci em
vida, que é muito importante a sua competência, a sua garra, a sua dedicação
que ele tinha por esta Cidade que ele tanto amava e que tanto amamos.
Gostaria de deixar a solidariedade pessoal do Ver. Jorge Goularte do
Partido Liberal, aos seus amigos, aos seus correligionários, aos seus
familiares, ao seu filho Lourenço e à extraordinária figura de Lícia Peres. Eu
lamento ela não estar aqui presente como o Dr. Raul Cauduro que, junto com a
Da. Mila, eu considero as pessoas mais amigas do Glênio e da Lícia. Eles dão o
exemplo de como deve ser uma amizade, sempre ao lado, atuante. Eu digo, de
público, e ela vai se lembrar disso, que eu a procurei com o Dr. Raul para que
nós acertássemos as nossas divergências, porque eu não gostaria de ir, além das
discussões de Plenário, a uma divergência eterna. Isso não seria bom e eu não
queria, e eles tiveram, mais uma vez, a amizade, a tranqüilidade de nos reunir
e de fazer com que nós nos compreendêssemos e nos respeitássemos, como foi
feito até os últimos dias de sua vida. A minha compreensão e a minha saudade ao
grande político gaúcho e ao grande amante desta Porto Alegre, Glênio Peres. Que
Deus o tenha no melhor lugar, porque ele o merece. Muito obrigado.
(Não revisto pelo orador.)
O SR. PRESIDENTE: Com a palavra, o Ver.
Rafael Santos, que falará em nome da Bancada do PDS.
O SR. RAFAEL SANTOS: Sr. Presidente, Srs.
Vereadores, amigos, familiares e companheiros de Glênio Peres.
Conheci Glênio Peres em 1973, quando assumi o meu mandato de Vereador,
pela primeira vez. Naquela oportunidade, Glênio Peres liderava uma Bancada
formada por antigos Vereadores, respeitáveis Vereadores desta Casa, como
Aloísio Filho, João Satte, César de Mesquita, Cleom Guatimozim, e tantos outros
Vereadores, já encanecidos alguns, e experimentados no trabalho em defesa dos
interesses desta Cidade. Então eu me perguntava por que Glênio Peres era o
Líder da Bancada e comecei a observar, a procurar conhecer melhor aquela figura
altiva e polêmica de Glênio Peres. Fizemos uma grande amizade, embora em
Partidos diferentes, embora em posições ideológicas divergentes. Fomos, aos
poucos, solidificando a nossa amizade e passei, não só a conhecer melhor e mais
profundamente Glênio Peres, como comecei a admirá-lo, admirá-lo pela sua
postura, pela sua fidelidade à palavra empenhada. Jamais alguém necessitou
pedir uma assinatura a Glênio Peres. A sua palavra empenhada era a certeza do
cumprimento do que havia sido acordado. Inúmeras vezes fui testemunha deste
fato. Em inúmeras oportunidades, vi Glênio Peres lutando e debatendo com sua
própria Bancada, porque havia assumido um compromisso verbal, do qual não se
afastava. Nunca vi, ou ouvi, no âmbito desta Casa, nos acordos, nas discussões,
Glênio Peres voltar atrás, depois de ter empenhado sua palavra, pois era, acima
de tudo, um homem de palavra. E amava esta cidade como ninguém. Embora
oposicionista ferrenho, embora lutador incansável, jamais levantava a voz para
se opor a um Projeto, a uma Proposição, que ele havia se convencido de que eram
benefícios para a Cidade. E, contra aqueles Projetos, aquelas Proposições que,
no seu entendimento, não eram benéficas para Porto Alegre, lutava como ninguém,
lutava como um leão ferido, sempre tendo presente a grandeza de nossa Porto
Alegre. Ninguém foi mais Vereador do que Glênio Peres, ninguém agiu, no âmbito
desta Casa, com mais acuidade, com mais cuidado na defesa dos interesses da
cidade do que Glênio Peres. Era capaz de esquecer as suas divergências
ideológicas, era capaz de esquecer as divergências pessoais, quando estivesse
em jogo algo que fosse do interesse da cidade, no seu pensamento, na sua idéia.
Com que entusiasmo Glênio falava de Porto Alegre, sem ter nascido em Porto
Alegre, mas aqui viveu, tendo aqui construído toda sua vida pública. Glênio
era, antes de tudo, e acima de tudo, um porto-alegrense que amava, que
respeitava e que lutava por sua cidade. Não me encontrava em Porto Alegre
quando Glênio Peres faleceu: só fui tomar conhecimento de seu desaparecimento 4
ou 5 dias após sua morte, quando retornei a esta cidade. O meu primeiro
sentimento foi que, efetiva e realmente, Porto Alegre havia perdido alguém que
lhe faria falta, e, realmetne, dos inúmeros homens públicos que Porto Alegre
registra, como homens que prestaram inestimáveis serviços a esta cidade, na
galeria, o nome de Glênio Peres deve ser escrito em letras destacadas, em
letras douradas, para que nunca esta cidade esqueça que aqui viveu, que aqui
lutou, que aqui trabalhou, em benefício dela, um homem como Glênio Peres. Muito
obrigado. (Palmas.)
(Não revisto pelo orador.)
O SR. PRESIDENTE: Com a palavra, o Ver. Pedro
Ruas, que falará em nome da Bancada do PDT com assento nesta Casa.
O SR. PEDRO RUAS: Sr. Presidente, Srs.
Vereadores, Senhoras e Senhores presentes, parentes, amigos, companheiros de
Glênio Peres, meu particular amigo Tasso Peres, existem determinados momentos
na vida de cada um de nós em que o protocolo cede lugar à emoção quando se fala
em nome do Partido da pessoa que é homenageada neste momento, da pessoa cuja
memória é referenciada e que, por felicidade, foi amigo deste Vereador. Srs.
Vereadores, Sr. Presidente, Sr. Prefeito, o fato de ter sido amigo pessoal de
Glênio Peres nos dá, pelo menos, o direito de deixar de lado um pouco o
protocolo em relação às palavras formais, em relação ao currículo do
homenageado, para falar um pouco da pessoa humana do companheiro, do líder
político Glênio Peres.
Existe um significado, Srs. Vereadores muito grande no fato de ter sido
esta Sessão Solene proposta por uma Vereadora que não é do PDT, que nunca foi
do partido do Sr. Glênio Peres. Existe também muito significado no fato de que
Vereadores que usaram esta tribuna que tiveram divergências políticas,
partidárias, eventualmente pessoais com Glênio Peres terem se referido ao
grande homem público de forma tão carinhosa, e de forma tão respeitosa. Não é
por acaso, Srs. Vereadores que Glênio Peres consegue a unanimidade de respeito
a sua pessoa, a sua militância política, a sua liderança partidária, a sua vida
como homem público. O antigo baleiro do Cine Capitólio, o repórter que marcou
época no jornalismo, premiado várias vezes pela Associação Riograndense de
Imprensa, o grande Vereador por quase duas décadas de Porto Alegre, o primeiro
Líder do PDT nesta Casa, o homem simples, não o homem comum Glênio Peres. O
homem que se constituiu no maior animador cultural desta Cidade e que, na sua
simplicidade, nas voltas do Mercado Público tocava samba com uma caixinha de
fósforos em companhia de seus amigos. Que conseguia algo muito raro em nossa
classe política ser ao mesmo tempo popular e respeitado de forma muito intensa
pelos segmentos populares, identificado por esses sentimentos e ao mesmo tempo
aceito e reverenciado nos círculos intelectuais e mais expressivos de nossa
Cidade. Este tipo de comportamento e de atuação do grande companheiro Glênio
Peres, deixa em todos nós a marca profunda, a marca da falta de substituição
deste grande companheiro. Cerca de uma semana ou 10 dias antes de seu
falecimento, Glênio Peres ainda manifestava preocupações, inclusive divulgadas
pela imprensa acerca dos impactos no meio ambiente que poderia produzir a
termelétrica do Jacuí. A preocupação de Glênio Peres, até seus últimos
momentos, foi a sua comunidade, foi a sua Cidade, pelo bem-estar da população.
Poucos dias antes de seu falecimento estive com S. Exa. e dele não ouvi nenhuma
só palavra de queixa ou lamento pela sua situação de doença em fase terminal;
ouvi, isto sim, conselhos do grande Vice-Prefeito, do grande Vereador a
respeito de como deveria ser a atuação de um Vereador nesta Casa. A respeito
das grandes preocupações que ele tinha para com Porto Alegre, para com o
bem-estar de sua Cidade, para com o bem-estar das instituições políticas, para
com os rumos do próprio PDT. Não fui liderado por S. Exa. nesta Casa porque não
era Vereador no seu tempo; mas fui liderado por Glênio Peres dentro do meu
Partido. Em várias e várias oportunidades tive dele ensinamentos e
conhecimentos que certamente levarei para sempre. E a honra de ter sido seu
liderado e o privilégio de ter sido seu amigo me deixam na situação talvez confortadora
de poder falar sobre sua esposa. O homem que ensinou a cada um de nós a fazer
política e o homem que ensinou a cada um de nós de que a vinculação com os
segmentos populares continua sendo a obrigação e a responsabilidade maior de um
político que faz política com conseqüência. Ninguém faz política séria
impunemente. Glênio Peres foi um homem polêmico que divergiu sempre, que teve
várias divergências e enfrentamentos. Quando cassado, em fevereiro de 1977,
entrevistado por diversos repórteres, Glênio respondeu, e repetiu a frase por
várias vezes: “nada fiz para não ser cassado” e a repetiu várias vezes até que
fosse entendido o seu real significado. Poucos dias depois, 11 dias, em
pronunciamento assemelhado e seguindo sua trilha, Marcos Klassmann, vereador,
teve o mesmo destino. Falando ontem com ele lhe perguntei se “há alguma coisa
específica” que deva ser lembrado da tribuna? Ele me respondeu: “Fala sobre
o que tu conheces, sobre tua relação
pessoal com ele.” A nossa relação pessoal é muito assemelhada à relação pessoal
de diversos Senhores presentes. É essa relação, esse convívio de ensinamento e
de conhecimento, de respeito que nos trouxe essas palavras, ditas na tribuna.
Para nós todos sempre restará a imagem do homem incombatido, do amigo e companheiro
leal, do líder partidário que jamais esmoreceu fosse ou não difícil a causa que
defendia. O homem que disputou a convenção do meu partido para a escolha à
vice-prefeitura do meu partido, na chapa liderada por Alceu Collares, que
obteve ampla aceitação e vitória. Que ensinou naquele dia qual o comportamento
de um homem partidário, quando disse, em 1985, “A mim não precisam perguntar se
sairei do partido, caso derrotado, porque não sairei”. São colocações, são
lembranças, frases, idéias, do grande líder político que ficam em nossa memória
para o todo sempre ecoando. Quando Glênio Peres não se cansou de repetir “o
sistema não tem virtudes, se enganam os que pensam que têm”. Essa frase tem um
significado muito maior que as simples palavras podem demonstrar. Na verdade, o
sistema não tem virtudes e ser inconformistas ou inconformados é a única
atitude digna e correta de qualquer homem público. São esses ensinamentos, é
essa vivência pessoal que nos deixa o grande companheiro Glênio Peres. Para
nós, Sr. Prefeito Municipal, Sr. Presidente, Srs. Vereadores, Senhoras e
Senhores, para nós foi um privilégio ter tido este tipo de contato, uma benção
poder conviver com Glênio Peres. E a sensação que de alguma forma se faz parte
da história tendo convivido com ele. Na ocasião em que foram reintegrados
Glênio Peres e Marcos Klassmann nesta Casa, nós tivemos um ato de bravura de
Vereadores desta Casa. O Ver. Cleom Guatimozim, na época Presidente da Câmara
Municipal, e outros companheiros, e não companheiros, tiveram atitudes dignas e
corretas e que engrandeceram a causa de Glênio Peres.
A sua luta, senhoras e senhores, é a luta de todos nós, talvez não para
nós com o mesmo brilho, com o mesmo talento, com o mesmo refinamento, com o
mesmo respaldo popular de Glênio Peres, porém na sua trilha, no seu caminho, na
diretriz que ele marcou para todos nós e que faz dele um orgulho, não só para
os companheiros do PDT, mas para várias e várias pessoas, vários e vários
homens públicos, vários e vários partidos que dele tomaram conhecimento, com
ele conviveram e com ele aprenderam.
É uma honra, Sr. Presidente, poder falar em nome do PDT a respeito da
memória do seu primeiro líder nesta casa, é uma honra, senhoras e senhores
poder falar a respeito da memória de um amigo cuja memória é enaltecida por
toda a cidade de Porto Alegre. E é uma honra, Srs. Vereadores de todos os
partidos, poder falar a respeito de um homem público, de um Vereador, de um
Vice-Prefeito, que marcou, indelevelmente a vida desta Cidade e que obtem de
todos os segmentos políticos, culturais e populares da nossa cidade respeito e
admiração perene de sua memória. Muito obrigado.
(Não revisto pelo orador.)
O SR. PRESIDENTE: Pela ordem, com a palavra o
Ver. Antonio Hohlfeldt, que falará em nome do seu partido.
O SR. ANTONIO HOHLFELDT: Sr. Presidente, Srs.
Vereadores, ser o último a falar nesta Sessão poderia ser difícil na medida
que, evidentemente, teria preocupação de evitar repetir aquilo que os vários
oradores já disseram de Glênio Peres. No entanto, pela versatilidade, pela
diversidade, pela dinamicidade de Glênio na vida cotidiana desta Cidade, não é
difícil, ao contrário. E eu que não pude estar presente, quando dos primeiros
momentos da morte do Glênio, porque não me encontrava em Porto Alegre, não
poderia evidentemente em meu nome pessoal, em nome do Partido dos
Trabalhadores, deixar de participar desta homenagem no dia de hoje.
Em algumas sociedades primitivas, costuma-se depositar viveres, guardar
a roupa e objetos pessoais e por vezes até mesmo incluir sacrifícios de
parentes mais próximos, quando ocorre a morte de algum membro da comunidade, no
sentido de honrar e preservar-lhe a memória. Em outras, algum parente
remanescente adota o nome do morto e, assim vai revivê-lo de geração em
geração.
A civilização a que pertencemos, crendo ou não, acrescentou um novo
elemento de fé e de esperança, a crença na ressureição, nos finais dos tempos,
enfim, numa possibilidade de reencontro. Qualquer que seja, porém, a prática da
sociedade, não se apaga a dor dos que perdem uma grande figura, uma figura
querida como foi o Glênio Peres, um lutador.
Tive a honra e a alegria de trabalhar com Glênio Peres, num determinado
momento. E eu diria que foi num momento difícil para Glênio que vinha de uma
derrota eleitoral, em torno dos anos 68 e 69, e que impossibilitado, portanto,
de manter o seu Cargo eletivo, nem por isso abandonou a sua luta e se não tinha
a Tribuna Legislativa, inventou outra tribuna para continuar o seu trabalho em
prol da Cidade e do Estado. Ele inventava a Expositur, realizada ainda na época
do Parque de Exposições Menino Deus, eu era indicado pelo então Companheiro e
Jornalista, Paulo Fontoura Gastal, para assessorar Glênio Peres no final de
semana. Conhecia Glênio Peres da Redação do Jornal, onde costumava frequentar
as noites do “Correio do Povo” onde ficávamos paginando as folhas, depois íamos
ao Matheus.
Tive a oportunidade de ver a força, a iniciativa de Glênio Peres, na
proposição que ele teve de viabilizar o cinema dentro do Parque de Exposições
Menino Deus, com um projeto de 35mm, onde se convidaram atrizes e atores,
diretores de São Paulo e Rio de Janeiro. Duplicar as sessões de cinema, quando
nos demos conta de que seriam um sucesso incrível de público, para o cinema
Marrocos e, de repente, conseguir levar toda aquela infra-estrutura,
especialmente, na área de cinema para a Cidade de Gramado, porque a Prefeitura
de Gramado descobria naquele momento que poderia transformar num evento, que
nascera aqui em Porto Alegre o seu cartão de visitas mais importante e que de
fato se transformou, é o Festival de Cinema Brasileiro de Gramado. Mas que
nasceu, é bom que se lembrem, nas mãos de Glênio Peres, em Porto Alegre, no
âmbito da Expositur.
Tive também oportunidade em várias vezes, nas campanhas de 85, de
sentar com Lícia, com Glênio e conversar sobre plataforma eleitoral, eu
claramente vinculado a um outro Partido, mas tendo a honra de ser o
interlocutor e discutir com os companheiros do PDT algumas propostas na área
cultural, exatamente, sempre com o Glênio. Da mesma forma que Glênio, Marcos
Klassmann, aliás, em quem votei pela primeira vez na minha vida como Vereador
desta Casa, foi no Marcos, nós tivemos a oportunidade de discutir, longamente o
encaminhamento de uma possível aliança entre o PT e o PDT, na eleição de 85.
Conversamos muito a respeito disso. Mas, para mim, independente destas
relações, o que sempre me marcou na figura do Glênio foi o bom humor, a
coerência, a tirada inesperada, foi a atenção com que ele, de repente,
surpreendia um determinado aspecto da realidade e imediatamente transferia isso
àqueles com quem estava dialogando, àqueles com quem estava, eventualmente,
disputando idéias.
Não temos mais Glênio fisicamente, mas Glênio, com toda certeza,
continuará conosco. Em primeiro lugar, porque tinha muitos projetos em mente e
administrava e trabalhava nestes projetos. Me lembro, por exemplo, que li e
aprendi muito com Glênio Peres, quando o Relator da Comissão de Inquérito nesta
Casa sobre o Projeto Rio Guaíba, passei horas acompanhando aquilo que Glênio
Peres, Vereador, havia levantado a respeito do Projeto nesta mesma Casa alguns
anos antes.
Lembro-me que aprendi com Glênio Peres, inclusive algumas questões em
torno do transporte coletivo, lembrados aqui pelo Ver. Lauro Hagemann.
Inclusive, reencampei uma iniciativa do Glênio, então Secretário dos
Transportes, em 1964, numa Emenda à atual Lei de tarifa que é exatamente a lei
que proíbe o aumento tarifário, a não ser que haja uma defasagem de 25%. Nunca
escondi que esta idéia foi de Glênio Peres, implantada durante a Administração
do Glênio junto a Secretaria Municipal dos Transportes.
Mas fora estes aspectos, Sr. Presidente, Sr. Prefeito, companheiros
Vereadores, minhas senhoras e meus senhores, Glênio Peres tinha como pessoa
humana realmente uma presença inesquecível. E eu não vou me esquecer jamais da
alegria com que Glênio, num certo dia, me falou, pela primeira vez do Lourenço,
e disse: “Pois é, a Lícia e eu resolvemos ter o Lourenço”. E eu acho que esta é
talvez a imagem mais bonita, mais sincera, de maior grandeza que eu tenho do
Glênio. Mais do que as palavras, mais do que os gestos políticos, mais do que
qualquer outra coisa que ele tenha feito por esta Cidade, ele teve a grandeza
de pensar junto com Lícia e de nos dar Lourenço. E aí está a sua herança maior
para esta Cidade e para o seu próprio nome. Muito obrigado.
(Não revisto pelo orador.)
O SR. PRESIDENTE: Com a palavra, o Sr.
Prefeito Municipal, Dr. Alceu Collares.
O SR. ALCEU COLLARES: Sr. Presidente, Srs.
Vereadores, Senhoras e Senhores, é muito difícil falar de uma personalidade tão
forte e carismática, tão coerente e tão extremamente dedicada à coisa pública,
como o Glênio Peres. Por mais abrangente que sejamos, por melhor que seja a
nossa memória, por mais competência que tenhamos para registrar todos os atos e
comportamentos de uma liderança como a de Glênio, sempre há de se deixar alguma
coisa essencial, porque todos os seus atos foram fundamentais. Ele foi feito de
atos decisivos e fundamentais. O Glênio vivenciou o dia-a-dia, ele absorveu o
presente. Viveu poucos anos, mas, talvez, tão intensamente que se pode imaginar
tenha dobrado a sua idade em matéria de vivência útil para o seu meio, para a
sua família, para a sua comunidade. Uma vida extremamente útil. E, quando se
pode falar de alguém que teve uma vida útil, que foi útil na sua passagem pelo
globo terrestre, nós estamos falando de uma personalidade de um indivíduo que
deixou profundas marcas, graças à fortaleza de sua personalidade. Comecei a
trabalhar com Glênio como Vereador, eu do PTB e ele do MTR, quando eleitos
fomos, em 1963, e assumimos em 1964. Os dois, como tantos outros de outros
Partidos, ficamos no poder, aliás, nós do PTB, ficamos no poder apenas dois
meses e, se não me falha a memória, incluindo o mês mais curto que era
fevereiro e o mês de março. Depois, nunca mais tivemos condição de conhecer o
que é poder, o que é a sua intimidade, porque, só em fevereiro e março de 1964,
é que nós do PTB estivemos dirigindo os destinos da Prefeitura Municipal,
quando foi arrancado, depois, pela força o nosso Prefeito Sereno Chaise. Depois
da extinção dos Partidos, nós todos ficamos no MDB, na resistência democrática,
que começou pelo País todo, que teve momentos enormes, momentos que
dignificaram a vida da criatura humana. E um deles eu registro, repetindo aqui
o Jorge Goularte e outros, foi a Mila Cauduro. A Mila deu uma demonstração de
grande visão do desdobramento do processo político, cultural e histórico das
ditaduras. Ela sabia, tinha consciência de que, dia mais, dia menos, o poder
não resistiria ao inconformismo e à rebeldia de todo o povo brasileiro. Ele
iria se enfraquecer, ele iria ser absorvido pela própria vontade popular. Eu me
lembro, Mila, no nosso próprio Partido – e é normal no partido da gente ter
alguns “Espíritos de Porco” quando você ia falar, eles diziam: “olha ela aí, de
novo, falando sobre isto, só sabe falar sobre isto.” Isto dentro do próprio
partido. Como naquela época, agora, como no nosso partido, e como em todos os
outros partidos, esta falta de qualidade e de grandiosidade, não é um
privilégio do nosso partido, é uma condição do desenvolvimento, e até de
compreensão da própria humanidade, até porque os partidos políticos são
constituídos de pessoas, não são de santos, que tenham sublimizado o seu pensamento,
nem de bestas que não raciocinem e, consequentemente, ao raciocinar, expressem
as suas próprias fragilidades, também como as suas próprias qualidades e
virtudes. Lembro bem que a Lícia, a Mila e tantas outras, quando era campanha,
quando elas ocupavam o espaço, e o sujeito que era candidato a Vereador, ou
deputado, dizia “estão ocupando o nosso tempo”, não sabendo que ali estava
sendo plantada uma semente muito importante que acabaria, mais cedo ou mais
tarde, permitindo o retorno de centenas de milhares de brasileiros. E a anistia
empolgou todo o País, não foi apenas a Mila, no Rio Grande, temos a Teresinha
Zerbini, talvez uma das primeiras que empunhou, mas o que é de se salientar, é
que foi a mulher que iniciou o processo de anistia no Brasil. Acho que a
homenagem maior, para se mostrar a sensibilidade da mulher, não se poderia
fazer. Voltemos ao Glênio: durante aquele tempo, o Glênio foi um homem que
viveu exclusivamente para a cidade, não havia um projeto de que ele não
participasse, com extremado vigor, com uma doação muito grande estudando desde
os mais simples projetos, as mais modestas proposições, às mais complexas. E é
do Glênio Peres uma legislação sobre o transporte coletivo, a primeira vez que
se fez contabilidade pública dos fatores que entram na produção do transporte
coletivo, é do Glênio, o princípio a que se referiu o nobre Ver. Hohlfeldt, e
que toda vez que ultrapassar em 25% os valores das diferenciações, os preços
dos insumos dar-se-á a fixação de uma nova tarifa, com uma única diferença, na
época em que o Glênio fez isso, a inflação ao ano era de 30% e lamentavelmente
esta boa intenção, a melhor das intenções do Ver. Antonio Hohlfeldt está sendo
hoje atingida pela virulência de uma inflação galopante que não demora muito
vai atingir 25% ao mês. Hoje, como naquela época também do Glênio, e é dele
esta frase: “o Prefeito Municipal no Brasil é apenas um repassador de custo
para a tarifa do transporte coletivo, mas é ele que leva a culpa de todo
aumento desta tarifa”. Nós não aumentamos o combustível, nós não tratamos de
pneus, de peças e acessórios, o preço do veículo não somos nós que fazemos. O
nosso Glênio deixou neste campo uma bela contribuição. Durante o tempo em que
convivemos houve um respeito mútuo; afinal de contas, nós éramos dois muito
fortes, com vontades muito definidas e houve momentos de entrevero; houve
momentos em que nós nos desentendemos, mas, passada a fase do desentendimento,
havia no Glênio, muito mais do que em mim, a capacidade de retomar o vínculo da
amizade, da fraternidade e da cordialidade. Eu não me lembro de nenhum momento
em que o Glênio tenha feito qualquer menção a desonrar, a falar mal de qualquer
uma pessoa. Ele buscava sempre ressaltar a virtude de seus adversários e a
tentar compreender o porquê de algumas posições e alguns comportamentos
políticos. Eu poderia dizer que o Glênio vivenciou trabalhando. Foi acima de
tudo autêntico – só é autêntico aquele que prega as idéias e tenta realizá-las
sob pena de ficar apenas no campo teórico, na pregação isolada, estéril de
idéias, sem que seja um pregador, sem que seja um lutador para transformar as
teorias, os postulados e os princípios em práticas capazes de melhorar as
condições de vida da nossa gente. Depois, passado o tempo, nos encontramos: ele
como candidato a Vice e eu como candidato a Prefeito. O que nós aprendemos com
Glênio sobre Porto Alegre? E olha que estou em Porto Alegre há muito tempo, mas
ele tinha para cada problema de Porto Alegre, um projeto na cabeça, para cada
situação de Porto Alegre ele tinha uma solução estudada, demoradamente,
profundamente, mensurada, medida. Um conjunto muito grande dessas idéias hoje
estão no plano de Governo do PDT que nós estamos implementando e felizmente
estamos colhendo os resultados na Semana de Porto Alegre. Eu gostaria de
lembrar várias dessas proposições a partir da Secretaria Municipal de Cultura,
que é dele e da Alícia. Foi a Alícia quem nos ajudou a elaborar princípios
básicos para que, criada a Secretaria de Cultura ela pudesse ter êxito e não
ocorrer com ela o que aconteceu com outras Secretarias, a nível estadual e a
nível municipal que, sem conteúdo, sem uma programação, sem um planejamento,
teve apenas um nome: Secretaria Municipal de Cultura, ou Secretaria Estadual de
Cultura. Pois muito bem, a contribuição do Glênio e da Alícia, em quatro mãos,
para a criação da Secretaria de Cultura e para a programação nossa na
Secretaria de Cultura, já foi recebida pelo nosso companheiro Joaquim José
Felizardo e é uma palavra de ordem nossa criar as oficinas culturais, para que
os agentes culturais possam também fazer nas vilas, nos bairros, em toda parte,
a tentativa de captar culturas populares e transmitir também a cultura da
própria elite para as nossas carências, para os nossos segmentos mais carentes.
Eu gostaria de dizer que acompanhei nos últimos dias do companheiro Glênio, e
ele foi um bravo. Em nenhum momento se ouviu dele qualquer queixa e se é de se
salientar o comportamento do Glênio perante a morte, uma coisa deve-se dizer:
era o amor à vida que o Glênio tinha. Ele não acreditava na morte, até os
últimos momentos lutando desesperadamente, certamente com a consciência muito
profunda da sua enfermidade, do que estava lhe acontecendo, mas ele não
acreditava, ele tinha absoluta convicção de que não iria morrer. Quem sabe se
ele não estava certo? Quem de nós está certo de que depois da vida material não
há uma outra vida? Quem de nós pode afirmar com absoluta convicção de que caída
a matéria, caída esta carcaça, o espírito não vai para outras paragens, para outras
bandas, vivenciar outros momentos da evolução espiritual do indivíduo? Quem de
nós pode achar que apenas esta passagem pela existência tão extremamente curta
perante a eternidade pode traduzir aquilo que todo o humano ser tem na sua
essência a idéia de um ser superior que é justo, que é bom, que é belo, E se é
justo, se é bom, se é belo se criara o mundo ...
Evidentemente, que não se sabe, se apenas somos o pequeno grão de areia
diante do oceano da eternidade. Quem sabe se não é uma hora de, em nome do
companheiro Glênio Peres, fazermos uma profunda reflexão, quem sabe se não é
uma hora de avanço no campo da espiritualidade, estão aí os americanos, os
russos fotografando o espírito, uma capa que o indivíduo tem. Quem sabe porque
nós temos a pretensão diante de entre miríades de planetas, de satélites, de
galáxias, só este grão de areia tenha vida? Por que o ser humano é tão
balaqueiro, tão pretensioso? Acha que só neste mundinho de nada, que só aqui
possa se ter vida, se há em tudo uma lei sábia, uma lei profundamente sábia no
macro e no microcosmo desde a semente que se põe na terra que busca o sol, aos
astros, que cumprem nas suas galáxias as determinações das suas leis por que
não admitirmos um momento de dúvida pelo menos, senão de convicção, pelo menos
de dúvida de que depois daqui tenhamos, eu tenho convicção, estou absolutamente
convencido que na poeira dos séculos, a vida do indivíduo passa por centenas de
milhares de experiências em busca do permanente aperfeiçoamento.
Imaginem, se fosse só esta vida que imagem e semelhança de Deus nós
teríamos? Que aperfeiçoamento nós conseguiríamos em 50, 60, 100 anos, quando a
eternidade não tem princípio e não tem fim?
Quem sabe a gente não faz uma reflexão numa hora como esta e talvez,
mais humildes, possamos deixar alguma dúvida a respeito do que vem depois da
morte? Eu não creio na morte, creio que o companheiro Glênio está absolutamente
vivo, não apenas na nossa memória, porque isso é da natureza, da matéria e do
nosso corpo, enquanto estivermos vivos ele estará na nossa lembrança. Mas eu
estou falando de algo acima disso, de uma sobrevivência da alma para aos poucos
buscar a sua própria perfeição. No meu entendimento isso tem me respondido
melhor as minhas questões, os meus questionamentos, quando perdi um filho
afogado eu me questionava, mas por que ele? Tão novo, tão jovem, por que não
eu? Por que acontecem essas coisas com as criaturas humanas? E alguns então
dirão, mas isso então é o fatalismo, não deixa absolutamente nada para o livre
arbítrio, para a determinação, para o encaminhamento da criatura em busca do
seu próprio aperfeiçoamento, das rotas que ele pode obter com sua ação e os
seus atos? Não. Eu acho que nem 100 nem 0, nem 8 nem 80, vamos só fazer isso,
admitir sem pretensão e sem orgulho. Como nós somos orgulhosos! Como somos
extremamente pretensiosos! É isso e acabou. Não é assim: o que ontem não era
uma verdade hoje é, o que ontem era a ignorância no sentido de desconhecer,
pode não ser hoje.
O que eu quero, deste Plenário, não é a convicção sobre a futura vida,
é apenas o momento de dúvida sobre algumas idéias. O Marxista, por exemplo, e
eu tenho me aprofundado, desde alguns anos, nesse estudo, posso até não
compreender muito, quando falar sobre a matéria, eu responderia que o espírito
também é uma matéria. Só que o espírito é uma matéria que é incapaz, ela está
impossibilitada do conhecimento dos nossos sentidos, pelo nosso atraso. Mas
tudo o que existe é matéria, o que não existe não é matéria. A alma, o
espírito, o corpo, a pedra, a montanha, a alma, o vento, é matéria. Eu só
gostaria que vocês refletissem comigo sobre essa reflexão. Porque eu acho que o
melhor mesmo é que que tenhamos dúvidas. Eu tenho muito medo daqueles que se
consideram donos absolutos da verdade. Por isso, Glênio Peres, nós estamos aqui
homenageando postumamente a tua memória, para dizer, também, que a nossa
Administração, com a tua ajuda, está colhendo o resultado do esforço. A tua
comissão de Humanização do Centro está funcionando segundo a tua própria
orientação; ali, onde tu vivenciavas e amavas o teu Mercado, o teu Chalé, o teu
Restaurante Dona Maria, nós estamos fazendo aquilo que tu querias e começaste a
fazer, recuperando o Mercado, recuperando as ruas. Já se pode passar, hoje, na
Voluntários, na Marechal Floriano, da Dr. Flores, já se pode, inclusive,
Glênio, passar na General Câmara, na Rua Uruguai e vamos, também, dentro de
pouco tempo, vamos remanejar o sistema de transporte coletivo e criar um grande
monumento ao Glênio Peres, o Largo Cívico Glênio Peres, onde hoje são os
terminais dos ônibus na Praça XV. E ali, Glênio, se Deus quiser, além de um
busto, nós vamos ter a animação permanente para as atividades culturais que tu
tanto amaste, para as quais deste um grande pedaço da tua vida, da tua
inteligência e do teu talento. Já estou vendo, Glênio, em cada canto uma arte,
em cada lugar uma expressão e uma manifestação de espírito, seja nas artes
plásticas, na música, seja na pintura, seja em qualquer forma de expressão. O
nosso Secretário Joaquim está recomendado de, imediatamente, pensar na animação
permanente do Larvo Cívico, e nos grandes comícios, grandes espetáculos
musicais e teatrais, que nós imaginamos fazer ali, no Largo Cívico Glênio
Peres. Nós já estamos pensando, inclusive, em palcos móveis, de pré-moldados,
que possam ser montados, na hora da necessidade dos grandes espetáculos; já
estamos pensando em pré-moldados, para fazer grandes palanques e grandes
comícios, para buscar, permanentemente, o aperfeiçoamento da democracia, o
vivenciamento da liberdade, em busca, cada vez mais forte da igualdade, que
eram os pilares que sustentaram a vida linda, bela, fascinante, generosa,
fraternal, cordial e amiga do nosso querido Glênio Peres. Meu querido Glênio
Peres, teus amigos e os teus irmãos só poderemos te prestar uma homenagem, e eu
sei que tu vais dizer: “Trabalhando, tentando executar as tuas idéias.” Nós
vamos tentar. Muito obrigado. (Palmas.)
(Não revisto pelo orador.)
O SR. PRESDENTE: Ao encerrar os trabalhos
desta Casa quero, inicialmente, como homenagem a Glênio Peres, dizer que,
apesar da sua personalidade muito forte, que nos levava, dia-a-dia, a
concordar, a discordar, Vereador que conosco conviveu durante 10 anos, com
excecção de dois destes 10, que a ditadura arrebatou desta Casa, quero dizer
que a Casa de Porto Alegre, que a Casa onde ele esteve por tão longo tempo não
está exatamente igual ao que certamente ele desejaria, até porque os tempos, no
Brasil, são rigorosamente nebulosos. No entanto, cada um de nós, com assento
nesta Casa, tem algumas divergências, mas, sobretudo, temos convergências, ou
seja, no sentido de abrirmos a Casa, de tentarmos dar dignidade à Casa num país
difícil de obter-se dignidade. Temos refletido sobre sua passagem. Nos sentimos
à vontade para colocar, diante do Sr.
Prefeito, das autoridades aqui presentes, da Da. Mila e de todos que sabem que,
ao correr dos anos Glênio Peres foi sempre, nesta Casa, um divisor de águas nas
quais, muitas vezes, nos situamos do outro lado. Não é por acaso que em dez
anos de vivência disputamos, seguramente, e o Ver. Cleom Guatimozim pode dizer,
a liderança, quer do MDB, quer do PDT, uma disputa saudável que, ao longo do
tempo, nos ensinou a nos respeitar como afirmava o Sr. Prefeito de Porto
Alegre.
De tal sorte que, no ato que se faz hoje, também se faz uma prestação
de contas, onde nove partidos falam. E nove partidos, divergindo ou convergindo
com Glênio Peres, reconhecem que a pluralidade de idéias é saudável ao debate,
e isto era exatamente o que colocava Glênio Peres. Isto nós temos feito.
Meditamos muito sobre o que poderíamos fazer sobre a Casa e, em comum acordo
com as Lideranças, instituímos um prêmio, porque, por mais que se diga do
Glênio Peres político, nós ainda estamos a julgar que, antes de tudo, Glênio
Peres era um cultor das artes e da cultura. Jamais, como parlamentar, como
político, abdicou ele desta sua condição. Por isto, a Câmara Municipal
instituirá um prêmio que leva o seu nome e que conjuga a sua atividade
parlamentar, de Vice-Prefeito, com a sua condição de homem voltado às
atividades culturais desta cidade. Este prêmio se destinará as melhores poesias
e monografias sobre a cidade de Porto Alegre, tudo isto em comum acordo com
todas as Lideranças da Casa e todos os membros da Casa, indiferentemente de
partidos políticos. Glênio Peres deixa, enfim, para nós, um alento de
continuarmos na vida pública, no sentido de sabermos que ela é bastante
ingrata, mas consegue, neste momento, neste justo momento, agregar – e me
permito citar – até o Sr. Ver. Jorge Goularte, que, junto com ele, ou contra
ele ,com ele, até ao esforço pessoal, o qual nós assistimos, por um mero
desentendimento casual e outros de fundo político, que eram bastante fortes.
Conseguiu isto porque, sobretudo, Jorge Goularte respeitava a figura de Glênio
Peres e suas idéias. Quero, também, deixar registrado que a figura de Glênio
Peres envolve esta Casa num fato singular, não só num verão doloroso em que
assumíamos o nosso mandato, com 14 Vereadores de oposição, com maioria
absoluta, portanto, S. Exa. era eleito por unanimidade, líder da bancada, fazia
o seu primeiro discurso e era cassado; seu vice, por indicação dele próprio,
era o Ver. Marcos Klassmann, e singular isso, o Prefeito de Porto Alegre parou
toda a Nação, porque cassaram Glênio e Marcos, e Porto Alegre foi declarada,
naquele momento, vamos dizer, a área, em todo o Brasil, de atenção e, acho
desproporcional até, todo poder central parece que via em Porto Alegre uma
trincheira contra o regime ditatorial que então vivíamos. Passados esses
tempos, vivemos um segundo momento que marca a história de Porto Alegre:
vivemos juntos, Ver. Cleom Guatimozim, Presidente da Câmara Municipal de então,
e este Vereador, líder da bancada de oposição, o MDB, decidíamos que Glênio e
Marcos deveriam reassumir e, para tal, não fomos levianos, Sr. Prefeito.
Constituímos, preliminarmente, uma comissão que me permito citar, para levar o
fato ao conhecimento das autoridades Federais, dizendo que daríamos posse,
tendo em vista a legislação de então, fazendo parte dela, os Ver. Elói Guimarães, Wilton Araújo e Sady Schwer. Essa comissão, Sr. Prefeito,
foi a Brasília e disse: “Nós vamos dar posse”. Para surpresa nossa, sobre isso
poderá depor melhor o Presidente da Casa de então, Ver. Guatimozim, as
autoridades não queriam que houvesse essa posse e, novamente, os canhões da
ditadura se voltaram para Porto Alegre. Naquele prédio da Prefeitura Nova,
cheia de policiais federais, o Ver. Cleom Guatimozim, com o apoio irrestrito da
Bancada de Oposição e com alguns membros da Situação, inclusive o Ver. Jorge
Goularte e o Ver. Raul Casa, a Vera. Bernadete Vidal, e outros que
eventualmente – me falha a memória – Ver. Frederico Barbosa, não interessa os
nomes, mas aqueles nomes à época garantiram a posse contra tudo e contra todos.
Glênio ensejou, junto com Marcos Klassmann, um momento na história do Rio
Grande do Sul, sobretudo desda Cidade. Não é por acaso que Porto Alegre está
escrita como “mui leal e velerosa”. Alguns atos devem ser destacados. Tudo isto
nos envolveu, tudo isto serve como mote, neste momento, para dizermos que cada
um de nós, da sua forma e do seu jeito e dentro dos seus princípios e de seus
ideais políticos, procuraremos buscar na figura de Glênio Peres, controvertida
– tão forte – como dizia o Sr. Prefeito, inspiração para continuarmos neste
mundo difícil que é o mundo político, onde a figura do herói e do vilão se
segue no dia subseqüente ao anterior. Esta é a nossa missão, esta é a curta
prestação de contas a Glênio Peres. Temos 9 Bancadas, temos uma Casa aberta e
tentamos criar uma democracia; apesar de sermos como Município, uma terminal,
uma UTI dos problemas sociais brasileiros, apesar disso continuamos a trabalhar
dentro daqueles princípios que enunciavam da tribuna da Câmara Glênio Peres.
Preocupa-nos só uma coisa: amantes de Porto Alegre morrem e alguém deve
sucedê-los. A lacuna de Glênio Peres é muito forte, independente de
convergências ou divergências. Vamos pensar nisso, que alguém precisa ocupar o
lugar de Glênio, não exatamente o lugar, mas o espaço que ele representava e
que ora nos deixa. Busquemos nas idéias dele e repassemos a outros, para
podermos continuar com a nossa Cidade leal, valorosa e, sobretudo, bonita, como
todos nós trabalhamos para isso e desejamos.
Agradeço, em nome da Câmara Municipal de Porto Alegre, a presença do
Sr. Prefeito, dos Srs. Componentes da Mesa, dos Srs. Secretários Municipais,
Diretores de autarquias, serviços municipais e de todos aqueles que fizeram
parte desta Sessão.
Estão encerrados os trabalhos.
(Levanta-se a Sessão às 12h 03min.)
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